A
Equilibração Majorante
Se pudéssemos examinar com uma lupa a ação de
um aprendiz sobre o objeto a ser conhecido por ele, enxergaríamos, na interação
entre eles, o processo de Equilibração Majorante.
O processo de Equilibração Majorante
compreende as seguintes etapas constitutivas do ato de aprender: desequilíbrio,
assimilação, acomodação e equilíbrio. Assim, a Equilibração Majorante pode
ser definida como o processo pelo qual o sujeito passa de um estágio de
menor conhecimento a um estágio de maior conhecimento, indo do
desequilíbrio ao equilíbrio por meio de assimilações e acomodações constantes.
Segundo Piaget, o que nos motiva para a
aprendizagem são os problemas cotidianos, os fatores desafiantes, os conflitos
intelectuais, ou seja, os desequilíbrios constantes que ocorrem entre o que
conhecemos e o que ainda existe a ser conhecido. Dessa forma, estamos em
desequilíbrio no processo de aprendizagem quando o conhecimento que temos sobre
algo é menor que o conhecimento contido no objeto a ser conhecido.
Se pudéssemos colocar numa balança o
conhecimento que tenho sobre informática e o conhecimento sobre informática
contido no objeto computador, poderíamos dizer que estou em desequilíbrio com o computador, uma vez
que nele estão contidos muito mais conhecimentos sobre informática que os que
eu possuo até agora.
Cabe a mim, aprendiz, extrair do objeto
computador as informações que desejo. Para tanto, preciso buscar essas
informações, preciso agir sobre o objeto a ser conhecido (o computador),
preciso interagir com ele. A esse processo de busca ou extração de conhecimento
dos objetos a serem conhecidos, Piaget chamou de assimilação.
Assimilação é a responsável por levar até os
esquemas cognitivos (esquemas prévios de aprendizagem do sujeito) as novas
informações extraídas do objeto que se está conhecendo, produzindo uma
modificação e uma reorganização nos esquemas de conhecer do sujeito, ao que
Piaget chama de acomodação.
Os
Estágios de Desenvolvimento
São quatro os estágios de desenvolvimento
propostos por Piaget: estágio sensório-motor, estágio pré-operatório, estágio
operatório-concreto e estágio operatório-formal ou lógico-formal, que
representam o desenvolvimento mental humano desde o nascimento até a fase
adulta.
O estágio sensório-motor (0–2 anos)
Costumamos dizer que nesse estágio o bebê
conhece o mundo por meio dos seus sentidos e de seus atos motores, que são
inicialmente involuntários, ou seja, é a partir de reflexos neurológicos básicos
que o bebê começa a construir esquemas de ação para assimilar mentalmente o
meio. A inteligência é prática. As noções de espaço e tempo são construídas
pela ação. O contato com o meio é direto e imediato, sem representação mental
ou pensamento. A relação mãe-bebê é simbiótica (interdependente) e a fala é
simbólica.
O
estágio pré-operatório (2–7 anos)
Caracteriza-se pela interiorização de
esquemas de ação construídos no estágio anterior. Tais esquemas de ação são
conseguidos por meio das sequências de assimilações e acomodações que vão sendo
realizadas pelas crianças durante suas múltiplas interações com o meio. Esse
período é conhecido também como a idade da curiosidade, onde a criança pergunta
o tempo todo. Essa curiosidade é despertada com a o desenvolvimento da fala e
com o desenvolvimento paralelo da capacidade de realização de representações
mentais.
Além disso, a criança nesse estágio é
egocêntrica (percebe-se como o centro das ações e seu pensamento continua
centrado no seu próprio ponto de vista), não aceita fatos sem explicação (fase
dos porquês), já age por simulação, possui percepção global, deixa-se levar
pela aparência sem relacionar fatos, distingue a fantasia do real, podendo
dramatizar a fantasia sem que acredite nela.
Apesar disso, a criança nesse estágio ainda
não é capaz de operar mentalmente uma ação complexa que exija dela a capacidade
de reversibilidade, ou seja, ainda não é capaz de realizar mentalmente uma ação
em seu caminho de ida e de volta. Por exemplo, a criança é capaz de compreender
que: 2+1=3 e que 3-2=1, mas não compreende que tais operações fazem parte de
uma mesma equação num caminho de ida e de volta.
Estágio
operatório-concreto (7–12 anos)
A criança desenvolve noções de tempo, espaço,
velocidade, ordem, casualidade, já sendo capaz de relacionar diferentes
aspectos e abstrair dados da realidade. Não se limita a uma representação
imediata, mas ainda depende do modo concreto para chegar à abstração.
Desenvolve a capacidade de representar uma
ação no sentido inverso de uma anterior anulando a transformação observada
(reversibilidade). É justamente a capacidade de operar uma ação em seu caminho
de ida e volta (o que configura a reversibilidade), que marca a passagem do
estágio pré-operatório para o estágio operatório-concreto.
Estágio
operatório-formal ou lógico-formal (12 anos em diante)
A representação agora permite a abstração
total. A criança não se limita mais à representação imediata nem somente às
relações previamente existentes, mas é capaz de pensar em todas as relações
possíveis logicamente, buscando a partir da hipótese e não apenas pela
observação da realidade. Nessa fase a criança aplica o raciocínio lógico nos
problemas. Além disso, outro fator relevante é a atuação autônoma do sujeito e
a capacidade de agir tanto independente e mentalmente quanto fisicamente.
Texto:
Valéria da Hora Bessa
Fragmento
do Livro: Teorias da Aprendizagem
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