sexta-feira, 1 de maio de 2015

Teorias da Aprendizagem XVIII - Célestin Freinet e o método natural História pessoal

Célestin Freinet nasceu em 1896, na vila de Gars-França, Alpes Franceses. Sua infância foi simples, no meio rural, onde teve a oportunidade de conhecer e experimentar a produção artesanal de insumos, bem como a oportunidade de conviver com camponeses e seus valores. Tais condições de vida vieram, mais tarde, a influenciar seu pensamento pedagógico.   
Seus estudos pedagógicos tiveram início quando cursou o magistério, mas, com a interferência da Primeira Grande Guerra (1914-1918), Freinet é levado a abandonar o magistério e alistar-se no exército.

Já de volta, depois de um acidente de guerra, Freinet retoma suas ações pedagógicas numa aldeia no sul da França, onde participa de estudos e pesquisas em busca de práticas e processos didático-pedagógicos diferenciados.

Influenciado pelos ideais da Escola Nova, Freinet passa a experimentar na sua própria classe, junto com seus alunos, novas ações pedagógicas de fundamentação prática que deram origem às atividades pedagógicas atualmente conhecidas.

Ao observar a inabilidade da educação tradicional para lidar com as questões educacionais, Freinet engaja-se como ativista político, lutando pela melhoria da qualidade do ensino de seu país. Sua luta não foi em vão, uma vez que, mais tarde, suas idéias vieram a auxiliar no processo de transformação do modelo educacional francês.

O início de tal processo de transformação se deu a partir das trocas de correspondências implementadas por Freinet entre alunos de escolas diferentes. Por causa da intensa troca de correspondências entre alunos e por ter motivado a criação de uma cooperativa com os camponeses de sua região, Freinet passa a ser visto como um “agitador”, sendo exonerado do cargo de professor.

Após ser exonerado, Freinet funda a Escola de Vence, construída a partir de doações. Inaugurada em 1935, não consegue o reconhecimento do Ministério da Educação. Apesar disso, Freinet continua trabalhando na cooperativa dos camponeses.
Sua proposta metodológica, baseada no método natural de ensino, implementa também os jornais murais, a imprensa escolar, as fichas autocorretivas, a correspondência escolar, os ateliês de arte, aulas-passeio, o livro da vida e exerce, ainda hoje, fascínio entre os professores de escolas públicas e privadas.

Na década de 1950, já doente, Freinet escreve boa parte de sua obra e engajase em campanhas como a que se dirigia à diminuição da quantidade de alunos em sala de aula, pedindo aos governantes o número máximo de 25 alunos por turma. Em 1966, Freinet morre na cidade de Vence, na França.

O vínculo de Freinet com a Educação

Freinet percebe o homem como um sujeito histórico, marcado pelos acontecimentos de seu tempo. Do mesmo modo, considera a Educação um processo dialético, a partir do qual o homem se constrói na relação com seus pares, ou seus iguais. Além disso, Freinet compreende a Educação como prática “colada” à vida, ou seja, que a Educação necessita atuar de maneira a ligar os estudos formais ao trabalho, pois entende que o trabalho é fruto do pensar e do agir humano. Assim, a Educação torna-se ao mesmo tempo essencial para a produção de conhecimentos específicos e para a produção de conhecimentos para a vida.

O que diferencia a proposta pedagógica de outras iniciativas similares é seu cunho político, ligado às ideias marxistas de Educação, agindo em prol da escola popular. Ao contrário do que fizeram outros teóricos de sua época, Freinet não apoiava um ensino elitista ou classificatório, mas sim um ensino pautado na experiência que pudesse preparar o aluno (de qualquer realidade socioeconômica) para o convívio social, defendendo o trabalho cooperativo como fundamental no alcance desse objetivo.

Por esse motivo, Freinet defendia a livre expressão como um princípio pedagógico, ou seja, dizia que a Educação deveria permitir que cada sujeito social pudesse expressar seus sentimentos, acolhendo, ao mesmo tempo, os sentimentos dos “outros” sociais, reforçando ainda mais sua ideia de uma pedagogia solidária e cooperativa.

Um outro princípio que liga Freinet à Educação é o trabalho. Para Freinet, o trabalho deve ser visto como um meio de instrumentalizar tecnicamente as reflexões do homem sobre seu mundo, incluindo aí as próprias relações de exploração existentes no mundo do trabalho. Desse modo, Freinet critica o trabalho alienado e defende uma Educação crítica que conduz o homem no caminho contrário ao do trabalho fragmentado e alienador.

Vale lembrar que o pensamento pedagógico de Freinet se alia aos pensamentos pedagógicos soviéticos e que, por esse motivo, sua preocupação centra-se na idéia de formação do homem historicamente determinado por suas relações sociais e seus padrões culturais.

Célestin Freinet e o método natural

Assim sendo, algumas considerações são necessárias:

•     Deve-se compreender a atividade mental de forma dialética, ou seja, de forma a considerar as implicações sociais. É nesse sentido que Freinet desenvolve as chamadas técnicas de vida;

•     A Educação para Freinet não é um processo autoritário, nem anárquico, mas sim o resultado de numa organização que promove uma racionalização da vida escolar. No entanto, para Freinet, tal organização assim constituída só tem sentido se o trabalho desenvolvido com os alunos ocorrer de forma cooperativa;

•     Baseado na psicologia da aprendizagem soviética (como na teoria de Vygotsky, por exemplo), Freinet considera três pontos como sendo de grande relevância para o processo pedagógico: a comunicação, a divisão do trabalho escolar e o desenvolvimento da aprendizagem. Sobre a questão da comunicação, Freinet aponta a dialética como um método fundamental a ser utilizado pelos professores com seus alunos. Sobre a divisão do trabalho escolar, Freinet aponta como saída à questão da cooperação, ou seja, para o trabalho coletivo. No que tange ao desenvolvimento da aprendizagem, aponta para o fato de que esta deve ser realizada em adequação com a realidade concreta dos alunos, incluindo aí a linguagem por eles utilizada;

•     Os conceitos que norteiam seu trabalho são: confiança, respeito mútuo, cooperação, coletividade, solidariedade, autonomia e trabalho.


Texto: Valéria da Hora Bessa 
Fragmento do Livro: Teorias da Aprendizagem

 

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