domingo, 3 de maio de 2015

Teorias da Aprendizagem XXIX – Philippe Perrenoud e a Teoria das Competências



História pessoal
Philippe Perrenoud nasceu na Suíça e formou-se em Ciências Sociais. Como sociólogo, tornou-se uma grande referência no campo da Educação com seus trabalhos desenvolvidos em torno das competências dos educandos. No Brasil, alcança vários professores com suas idéias inovadoras sobre a formação de professores e avaliação dos alunos, assuntos amplamente discutidos e matéria de constantes considerações a partir de seu enquadramento nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN).

Philippe Perrenoud atua como professor na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação na Universidade de Genebra. É autor de vários títulos importantes na área de formação de professores, tais como: Avaliação – da excelência à regulação das aprendizagens; Pedagogia Diferenciada; Construir as competências desde a escola; e o famoso Dez novas competências para ensinar.

Seu interesse em estudar as problemáticas educacionais surgiu durante o seu doutoramento em Sociologia, quando teve a oportunidade de estudar o processo de evasão escolar e suas referências com as desigualdades sociais.
Perrenoud propõe, a partir de suas experiências na área pedagógica, um modelo educacional baseado em ciclos de três anos, no qual a criança dispõe desse período para desenvolver as competências de sua faixa etária.

De acordo com Perrenoud, para que tal modelo educacional tenha êxito, é preciso que não se permita que uma criança repita um ciclo de três anos, já que a idéia é que ela tenha mais tempo para desenvolver competências específicas. Deste modo, há a necessidade de se enfatizar os processos de avaliação, para que sejam mais eficientes e realmente capazes de identificar as dificuldades de aprendizagem dos alunos.

Compreendendo a noção de competência
O conceito de competência não é novo. Ele começou a ser discutido mais amplamente na área pedagógica a partir da década de 1990, destinando-se ao ensino de crianças nas séries iniciais. No entanto, o conceito de competência ganhou tamanha amplitude que acabou incorporado pelo meio empresarial e industrial, que encontrou nele um aliado para os modelos recentes de gerenciamento de pessoas, baseados nos ideais da qualidade total.
O modelo de gerenciamento/produção fundamentado na qualidade total baseia-se no aproveitamento máximo dos recursos humanos e materiais na produção. Isso significa dizer que, quando pensamos no aproveitamento máximo dos recursos humanos, estamos falando do aproveitamento das capacidades (termo também utilizado pelo Programa de Qualidade Total – PQT) intelectuais de um indivíduo. Para tanto, toma como referência conceitos psicológicos, como o de competência, para sugerir e mapear aquilo que um trabalhador pode trazer de contribuição na execução de uma tarefa.

Deste modo, segundo Gentile e Bencini (2000 apud RODRIGUES; PARIZ, 2005, p. 109), as competências são entendidas como a capacidade de “mobilizar um conjunto de recursos cognitivos (saberes, capacidades, informações etc.) para solucionar com pertinência e eficácia uma série de situações”.

É claro que, dentro de um modelo empresarial ou mesmo de um modelo escolar, o que se espera de um funcionário ou aprendiz é que este consiga alcançar os objetivos propostos pelos gestores ou professores. Assim, cabe a estes profissionais promover a capacitação de seus funcionários ou alunos para o desenvolvimento das competências necessárias para a realização de suas tarefas, bem como para a resolução dos problemas cotidianos com maior eficácia (o conceito de eficiência também faz parte do grupo de conceitos psicológicos aproveitados pelos PQT).
Voltando à questão do tempo necessário para o desenvolvimento das competências por um aluno, que segundo Perrenoud deve ser aumentado (girando em torno de três anos em cada ciclo escolar), podemos aproveitar o mesmo pensamento para a área empresarial. O problema é que, ao falarmos de empresas, falamos também de lucro e ao falarmos de lucro, falamos em redução do tempo de execução das tarefas. Nesse ponto, o modelo das competências proposto por Perrenoud passa a ganhar um novo sentido no interior dos PQT.

Além disso, podemos também afirmar que a apropriação dos conceitos psicológicos feita pelos PQT, bem como seus usos, são perversos no que tange à exclusão daqueles que, de uma maneira ou de outra, não apresentaram de pronto ou não chegaram a desenvolver as competências exigidas pela empresa na execução de uma tarefa dentro do (pouco) tempo determinado.
A questão então, não é a de assumirmos uma postura de ataque ou defesa quanto à teoria das competências, mas de compreendermos seus princípios e fundamentos sabendo que corre-se o risco, assim como acontece com qualquer teoria, de ela ser mal interpretada ou utilizada para outros fins que não o sugerido pelo seu disseminador.

No que tange à Educação, o conceito de competência proposto por Perrenoud veio trazer um novo olhar sobre as práticas pedagógicas e sobre a compreensão do tempo pedagógico, alterando inclusive os modelos de seriação, tão comum nas escolas ao introduzir a noção de ciclos que, atualmente, é utilizada por várias Secretarias de Educação.
Se acreditamos que a formação de competências não é evidente e que depende em parte da escolaridade básica, resta decidir quais ela deveria desenvolver prioritariamente. Ninguém pretende que todo saber deve ser aprendido na escola. Uma boa parte dos saberes humanos é adquirida por outras vias. Por que seria diferente com as competências? Dizer que cabe a escola desenvolver competências não significa confiar-lhe o monopólio disso.
Philippe Perrenoud  Resultado de imagem para Philippe Perrenoud 
Texto: Valéria da Hora Bessa 
Fragmento do Livro: Teorias da Aprendizagem

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