História pessoal
Philippe Perrenoud nasceu
na Suíça e formou-se em Ciências Sociais. Como sociólogo, tornou-se uma grande
referência no campo da Educação com seus trabalhos desenvolvidos em torno das
competências dos educandos. No Brasil, alcança vários professores com suas
idéias inovadoras sobre a formação de professores e avaliação dos alunos,
assuntos amplamente discutidos e matéria de constantes considerações a partir
de seu enquadramento nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN).
Philippe Perrenoud atua como professor na Faculdade de
Psicologia e Ciências da Educação na Universidade de Genebra. É autor de vários
títulos importantes na área de formação de professores, tais como: Avaliação – da excelência à regulação das
aprendizagens; Pedagogia
Diferenciada; Construir as
competências desde a escola; e o famoso Dez
novas competências para ensinar.
Seu interesse em estudar as problemáticas educacionais
surgiu durante o seu doutoramento em Sociologia, quando teve a oportunidade de
estudar o processo de evasão escolar e suas referências com as desigualdades
sociais.
Perrenoud propõe, a partir de suas experiências na área
pedagógica, um modelo educacional baseado em ciclos de três anos, no qual a
criança dispõe desse período para desenvolver as competências de sua faixa
etária.
De
acordo com Perrenoud, para que tal modelo educacional tenha êxito, é preciso
que não se permita que uma criança repita um ciclo de três anos, já que a idéia
é que ela tenha mais tempo para desenvolver competências específicas. Deste
modo, há a necessidade de se enfatizar os processos de avaliação, para que
sejam mais eficientes e realmente capazes de identificar as dificuldades de
aprendizagem dos alunos.
Compreendendo a noção de competência
O conceito de competência não é novo. Ele começou a ser
discutido mais amplamente na área pedagógica a partir da década de 1990,
destinando-se ao ensino de crianças nas séries iniciais. No entanto, o conceito
de competência ganhou tamanha amplitude que acabou incorporado pelo meio
empresarial e industrial, que encontrou nele um aliado para os modelos recentes
de gerenciamento de pessoas, baseados nos ideais da qualidade total.
O modelo de
gerenciamento/produção fundamentado na qualidade total baseia-se no
aproveitamento máximo dos recursos humanos e materiais na produção. Isso
significa dizer que, quando pensamos no aproveitamento máximo dos recursos
humanos, estamos falando do aproveitamento das capacidades (termo também utilizado
pelo Programa de Qualidade Total – PQT) intelectuais de um indivíduo. Para
tanto, toma como referência conceitos psicológicos, como o de competência, para
sugerir e mapear aquilo que um trabalhador pode trazer de contribuição na
execução de uma tarefa.
Deste modo, segundo Gentile e Bencini (2000 apud RODRIGUES; PARIZ, 2005, p. 109), as
competências são entendidas como a capacidade de “mobilizar um conjunto de
recursos cognitivos (saberes, capacidades, informações etc.) para solucionar
com pertinência e eficácia uma série de situações”.
É claro que, dentro de um modelo empresarial ou mesmo
de um modelo escolar, o que se espera de um funcionário ou aprendiz é que este
consiga alcançar os objetivos propostos pelos gestores ou professores. Assim,
cabe a estes profissionais promover a capacitação de seus funcionários ou
alunos para o desenvolvimento das competências necessárias para a realização de
suas tarefas, bem como para a resolução dos problemas cotidianos com maior
eficácia (o conceito de eficiência também faz parte do grupo de conceitos
psicológicos aproveitados pelos PQT).
Voltando à questão do tempo necessário para o
desenvolvimento das competências por um aluno, que segundo Perrenoud deve ser
aumentado (girando em torno de três anos em cada ciclo escolar), podemos
aproveitar o mesmo pensamento para a área empresarial. O problema é que, ao
falarmos de empresas, falamos também de lucro e ao falarmos de lucro, falamos
em redução do tempo de execução das tarefas. Nesse ponto, o modelo das
competências proposto por Perrenoud passa a ganhar um novo sentido no interior
dos PQT.
Além disso, podemos também afirmar que a apropriação
dos conceitos psicológicos feita pelos PQT, bem como seus usos, são perversos
no que tange à exclusão daqueles que, de uma maneira ou de outra, não
apresentaram de pronto ou não chegaram a desenvolver as competências exigidas
pela empresa na execução de uma tarefa dentro do (pouco) tempo determinado.
A
questão então, não é a de assumirmos uma postura de ataque ou defesa quanto à
teoria das competências, mas de compreendermos seus princípios e fundamentos
sabendo que corre-se o risco, assim como acontece com qualquer teoria, de ela
ser mal interpretada ou utilizada para outros fins que não o sugerido pelo seu
disseminador.
No que tange à Educação, o
conceito de competência proposto por Perrenoud veio trazer um novo olhar sobre
as práticas pedagógicas e sobre a compreensão do tempo pedagógico, alterando
inclusive os modelos de seriação, tão comum nas escolas ao introduzir a noção
de ciclos que, atualmente, é utilizada por várias Secretarias de Educação.
Se acreditamos que a formação de competências não é evidente
e que depende em parte da escolaridade básica, resta decidir quais ela deveria
desenvolver prioritariamente. Ninguém pretende que todo saber deve ser
aprendido na escola. Uma boa parte dos saberes humanos é adquirida por outras
vias. Por que seria diferente com as competências? Dizer que cabe a escola
desenvolver competências não significa confiar-lhe o monopólio disso.
Philippe Perrenoud
Texto:
Valéria da Hora Bessa
Fragmento
do Livro: Teorias da Aprendizagem
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