O trabalho de alfabetização de adultos desenvolvido por
Paulo Freire apresentava ao país e, mais tarde, ao mundo, uma nova perspectiva
educacional baseada em três eixos de investigação sobre o universo dos alunos:
investigação do universo vocabular, a investigação das temáticas geradoras e a
investigação em torno da problematização dos temas propostos.
A investigação do universo vocabular dos alunos
consiste na realização de um inventário de palavras representativas do contexto
cultural no qual os alunos estão inseridos. Tal inventário seria formulado a
partir de conversas livres sobre vivências cotidianas empreendidas entre os
educadores e os educandos. As palavras inventariadas são chamadas por Paulo
Freire de palavras geradoras, uma vez que é a partir delas que os educadores
iniciarão sua jornada em direção à alfabetização de seus alunos.
A investigação das temáticas geradoras, ou dos temas
geradores, ocorre a partir da “eleição” pelo grupo de educandos dos temas que
mais os afetam, buscando representar de diversas formas o modo de vida dos
educandos. Desse modo, as temáticas geradoras são responsáveis pelo surgimento
de um ambiente alfabetizador que se organiza em torno do diálogo, ou melhor, de
uma proposta dialógica.
A investigação da problematização dos temas propostos
(ou apenas problematização) é o ponto central do processo de alfabetização
segundo o método Paulo Freire. A problematização traz consigo a idéia de que
alfabetizar não é apenas ensinar a ler e a escrever as palavras a partir de
seus grafemas e fonemas, mas sim um ato de construção de conhecimentos e
entendimentos sobre o mundo que nos cerca, o que se faz a partir do
desvelamento da realidade, do engajamento político e de lutas em prol das
transformações das condições concretas de existência.
Assim, ao estimular o pensamento político, Paulo Freire
pretendia apenas que os alunos compreendessem a importância de intervir na vida
política, uma vez que, para ele, ser cidadão é ser sujeito da sua própria vida.
É nesse sentido que Freire valoriza o contexto no qual
o educando está inserido. O autor busca desenvolver, desse modo, outros saberes
que geralmente não são considerados pela escola como úteis para o processo de
aprendizagem, mas que são considerados por Freire como integrantes da realidade
de cada um de nós, uma vez que fazemos parte do mundo e não nos separamos dele
no momento do nosso processo de educação.
Podemos dizer, diante do exposto até o momento, que o
“Método Paulo Freire” busca valorizar a
cultura dos alunos ao inserir no
interior do processo educativo as experiências e os conhecimentos que os alunos
trazem. Segundo Freire (1993, p. 41),
aí está uma das tarefas da educação democrática e popular, da Pedagogia da esperança – a de possibilitar nas classes populares o desenvolvimento de sua linguagem, jamais pelo “blábláblá” autoritário e sectário dos “educadores”, de sua linguagem que, emergindo da e voltando-se sobre sua realidade, perfile as conjecturas, os desenhos, as antecipações do mundo novo. Está aqui uma das questões centrais da educação popular – a da linguagem como caminho da cidadania.
É
com base nesses ensinamentos de Paulo Freire que devemos agir, de forma
consciente, ativa, preocupada com a inclusão efetiva de todos no processo
educacional. Devemos ainda ter o cuidado de não continuarmos reproduzindo
práticas de exclusão que levam ao já conhecido fracasso escolar. Nesse sentido,
nosso papel como educadores é o de sempre buscar melhorar nossa atuação na
relação direta que estabelecemos com nossos alunos dentro do espaço escolar e
fora dele.
Uma pedagogia da esperança
De acordo com Paulo Freire, a Educação é uma prática
política tanto quanto uma prática política é pedagógica, o que exige dos
educadores a compreensão de que devem desenvolver com seus alunos um projeto
político de sociedade pelo viés pedagógico do respeito às histórias de vida de
cada um.
Em seu livro Pedagogia
da esperança, Paulo Freire nos leva a compreender que todos podemos
alcançar uma pedagogia libertadora, uma vez que consigamos sensibilizar nossos
olhares, desvelar o mundo, descobrindo tudo o que se esconde atrás da nossa
realidade, buscando ler as razões da violência, da pobreza, das desigualdades
sociais etc.
Desse modo, percebemos que para Paulo Freire o ato de
ensinar é central na vida de qualquer educador. Para este último, Paulo Freire
sugere não subestimar o educando, uma vez que o mesmo é portador de
potencialidades que precisam ser desenvolvidas para que possa alcançar sua
autonomia e sua liberdade diante da sociedade. Cabe ao educador conduzir o
educando, orientando sua formação, estimulando o surgimento de desejos de
libertação e de luta em prol da transformação de sua realidade.
A
esperança da qual nos fala Paulo Freire é a esperança de um dia podermos ver o
surgimento de uma sociedade mais justa e igualitária, que encontra na Educação
não apenas um meio para o letramento, mas sim uma forma de alfabetização para a
vida, diante da qual, um dia, seremos todos agentes políticos, verdadeiros
cidadãos entendedores de nossas realidades e participantes ativos do processo
de (re)construção social.
Texto:
Valéria da Hora Bessa
Fragmento
do Livro: Teorias da Aprendizagem
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