domingo, 3 de maio de 2015

Teorias da Aprendizagem XXVI – A aprendizagem significativa



A aprendizagem significativa pode ser entendida como um processo que envolve sucessivas ancoragens por meio da ligação do novo conhecimento ao conhecimento subsunçor1. O contrário da aprendizagem significativa seria, para Dessa forma, a aprendizagem significativa é um conceito central na teoria de Ausubel e, como tal, é em torno desse conceito que ele formula várias outras noções sobre o processo de aprender.

O primeiro conceito a ser compreendido é o de elementos subsunçores, que nada mais são que elementos facilitadores do processo de aprender. Tais elementos são representados pelos conhecimentos prévios e por conceitos anteriores já formulados pelo aprendiz. Além disso, podemos também considerar como elementos subsunçores aqueles utilizados pelo professor para auxiliar na organização do conhecimento a ser construído pelo aluno. Nesse sentido, os materiais, as explanações introdutórias e toda a gama de atividades voltadas para a construção de uma idéia inicial sobre algum conteúdo podem ser consideradas um elemento subsunçor, contanto que atue, de fato, como facilitador da aprendizagem.

Assim, podemos dizer que a aprendizagem significativa só ocorre diante de condições específicas voltadas para o ato de aprender. A essas condições Ausubel chamou de condições de ocorrência da aprendizagem que dizem respeito ao conhecimento a ser transmitido e a disposição do aluno para o ato de aprender.

Sobre o conhecimento a ser transmitido, Ausubel nos diz que um conhecimento para ser compreendido por um aluno deve ser relacionável com outros conhecimentos e incorporável ao conjunto de esquemas cognitivos (modos de aprender) de cada aluno. Isso significa dizer que o conteúdo deve se relacionar com os interesses dos alunos, ou seja, fazer sentido, para que o aluno continue estimulado para a aprendizagem.

Já a disposição do aluno para aprender nos aponta para o fato de que, para haver aprendizagem é necessário, antes, que exista um esforço por parte do aprendiz; é preciso que o aprendiz queira realizar a ligação entre a nova informação e os conceitos já existentes em sua mente. Tal esforço, segundo Ausubel, deve ser espontâneo para que a aprendizagem não acabe se transformando em um ato mecânico de “decoreba”.

Mas, qual a evidência de existência de uma aprendizagem significativa? Segundo Moreira (1983, p. 65), tais evidências são difíceis de serem percebidas ou observadas, uma vez que os alunos podem simular a aprendizagem por meio de memorizações. Desse modo, para obter evidências sobre uma aprendizagem significativa, Moreira (1983, p. 65) recomenda o trabalho de avaliação voltado para mapearmos os conceitos já adquiridos pelos alunos, o que poderia ser feito com  questionários ou atividades do tipo “desafio”.

Tal preocupação com as evidências de aprendizagem se devem também em parte pelo fato de Ausubel considerar que a aprendizagem significativa pode ocorrer de três formas distintas: por meio da aprendizagem representacional (de tipo mais básico em que o aprendiz liga os símbolos a seus significados, atribuindo significado ao símbolo); por meio da aprendizagem de conceitos, ligada à representação de conceitos amplos (genéricos), classificados em categorias pelo aprendiz. Nesse tipo de aprendizagem, o aprendiz já é capaz de fazer abstrações a partir do símbolo, ou seja, já é capaz de representar o símbolo, descolando-o do seu real significado, utilizando-o para outros fins; e a aprendizagem proposicional, relativa à aprendizagem dos significados das idéias a partir de proposições. Segundo Ausubel, as proposições são combinações de conceitos, ou seja, um conjunto de idéias do qual se pode extrair o significado de vários conteúdos.

Além de classificar a aprendizagem significativa em três tipos, Ausubel também se preocupa em classificar as aprendizagens significativas por força de atração organizativa, ou seja, procurando demonstrar se a pressão para a ocorrência da aprendizagem partiu dos conhecimentos anteriores já existentes na estrutura cognitiva do aprendiz, se partiu dos novos conhecimentos ou se partiu de ambos. Desse modo, Ausubel nos diz que as aprendizagens significativas também podem ser subordinadas, superordenadas e combinatórias.

Na aprendizagem significativa subordinada, o novo conhecimento encontra-se subordinado ao conhecimento anterior, ou seja, depende do conhecimento prévio para poder se ancorar (fixar).

Na aprendizagem significativa superordenada, é o novo material já assimilado que, por meio de acomodações na estrutura cognitiva, passa a ser responsável por se ligar aos conhecimentos prévios, assimilando-os.

Já na aprendizagem significativa combinatória a nova informação, por meio de pressões recíprocas entre os conhecimentos anteriores e os novos conhecimentos, torna-se potencialmente significativa, não necessitando impor uma subordinação ou superordenação dos conhecimentos.
Além dos conceitos já apresentados até aqui, Ausubel também desenvolveu mais dois: o de diferenciação progressiva e o de reconciliação integrativa.

A diferenciação progressiva diz respeito à modificação do conceito subsunçor ( conhecimento prévio ) através da elaboração hierárquica de proposições e conceitos na estrutura cognitiva, de modo que as ideias mais inclusivas a serem aprendidas sejam apresentadas primeiro. E então, diferenciada em termos de detalhes e especificidade. (MOREIRA, 1983, p. 69).

Já a reconciliação integrativa é definida como um processo que reorganiza a estrutura cognitiva com base nas novas aprendizagens relacionadas umas com as outras, o que lhes atribui novos significados gerados a partir de sucessivos processos adaptativos, ou seja, a partir da alteração, reorganização ocorrida nos conhecimentos prévios com a  introdução de um novo conceito.

Como podemos ver, ao pensar uma teoria de aprendizagem baseada na questão da significação do mundo por meio da organização dos conhecimentos em esquemas cognitivos, Ausubel formula uma teoria extensa e complexa (quando não conseguimos compreender a lógica de sua proposição), que talvez por esse motivo seja pouco utilizada pelos profissionais da educação.
Por outro lado, Ausubel nos traz também contribuições valiosas quanto ao entendimento dos processos de aquisição de conhecimento e fixação de conteúdos, bastando ao professor compreendê-los para poder colocá-los em pr prática.

O papel do professor na teoria de Ausubel

Diante de sua teoria, Ausubel se aproxima do trabalho docente sugerindo modos de intervenção que auxiliem na facilitação da aprendizagem de forma significativa. Para tanto, Ausubel diz que o professor necessita:

determinar a estrutura conceitual e proposicional da matéria, que significa determinar os conceitos que serão utilizados bem como a forma de sua apresentação;

identificar os elementos subsunçores (conceitos/conhecimentos já formulados e adquiridos) que serão necessários para aprender significativamente um conteúdo;

diagnosticar o que os alunos já sabem, mapeando, entre os subsunçores, aqueles que encontram-se disponíveis na estrutura cognitiva do aluno;

ensinar utilizando recursos e princípios que levem os alunos de uma aprendizagem conceitual a uma aprendizagem significativa, o que pode ser feito com o auxílio dado pelo professor para a compreensão da matéria.

Concluímos assim que, para Ausubel, o papel do professor está relacionado à organização dos conhecimentos dos alunos em torno dos elementos subsunçores bem como à tarefa de facilitador da aprendizagem por via de recursos específicos e diagnósticos precisos sobre as possibilidades cognitivas de cada aluno.


Texto: Valéria da Hora Bessa 
Fragmento do Livro: Teorias da Aprendizagem


 

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