História pessoal
Paulo
Freire nasceu Paulo Reglus Neves Freire, em Pernambuco, em 1921. Filho de pais
pobres experimentou, no seio das classes populares, as dificuldades comuns num
país marcado por extremas desigualdades
como o Brasil.
Após ter trabalhado no Serviço Social da Indústria
(Sesi), alça seus primeiros vôos em relação a sua metodologia enquanto
lecionava na Universidade do Recife onde, além de atuar no Serviço de Extensão
Cultural, é admitido como professor de História e Filosofia. São essas
experiências em torno de sua jornada na Universidade de Recife que divulgam a
obra de Paulo Freire. Mesmo assim, o que o torna conhecido é sua experiência de
alfabetização de adultos na cidade de Angicos, Rio Grande do Norte, em 1963.
Por ter assumido uma postura de contestação às práticas
educativas tradicionais e tecnicistas e, mais ainda, por ter assumido uma
postura política de conscientização dos oprimidos por meio do ato educativo (ao
modelo Gramsciano de Educação), é visto pela ditadura militar instalada em 31
de março de 1964 como um inimigo político, sendo exilado do país.
Mesmo exilado, sua proposta educacional atinge vários
educadores que se encontravam, há muito, insatisfeitos com as práticas
pedagógicas encerradas atrás dos muros escolares. Além disso, ao ser exilado
passa a divulgar seu método de alfabetização em universidades de várias partes
do mundo por onde passou. Trabalhou em Harvard (EUA), em Genebra (Suíça), na
África, na China, no Chile, no Peru e no Brasil.
Pelo conjunto de sua obra e por seus ensinamentos,
Paulo Freire ganhou vários prêmios e homenagens internacionais. Dentre eles,
podemos citar os vários títulos de doutor honoris
causa por 27 universidades; o prêmio rei Balduíno para o desenvolvimento
(concedido na Bélgica em 1980); o prêmio Unesco
da Educação para a paz (em 1986) e o prêmio Andrés Bello (como educador dos Estados Americanos).
Além de seus muitos prêmios, Paulo Freire também ficou
conhecido pelos livros que publicou sobre a Educação e sobre seu método
pedagógico. Entre eles, podemos citar Pedagogia
do oprimido; Pedagogia da esperança;
e Pedagogia da autonomia,
responsáveis por alterar radicalmente o pensamento pedagógico brasileiro.
Paulo Freire morreu em maio de 1997.
A Educação segundo Paulo Freire
A pedagogia freireana se insere no conjunto de
propostas pedagógicas conhecidas como progressistas, que surgiram em oposição à
pedagogia liberal, tendo como seu principal objetivo os interesses da maioria
da população, partindo de uma análise crítica da sociedade capitalista.
Para a pedagogia progressista, a Educação não é neutra
e os problemas educacionais são os reflexos do contexto social no qual o
indivíduo está inserido. A Educação não está centrada no professor ou no aluno,
mas sim na relação entre os indivíduos envolvidos nesse processo de formação do
cidadão consciente. As práticas pedagógicas progressistas estão divididas em
três grupos: o da pedagogia libertadora, o da pedagogia libertária e o da
pedagogia crítico-social dos conteúdos.
O modelo educacional adotado por Paulo Freire se insere
no conjunto de práticas relacionadas com a pedagogia libertadora, uma vez que
questiona a realidade das relações do homem com a natureza e com os outros
homens, visando a uma transformação. Por isso, ela é chamada de educação
crítica. Trabalha-se com temas geradores centrados na realidade social, na qual
o importante não é a transmissão dos conteúdos específicos e sim despertar uma
nova forma de relação com a experiência vivida, tendo em vista a ação coletiva
diante de problemas e realidades do meio socioeconômico e cultural da
comunidade local. O conhecimento é transmitido pelo diálogo, pois este engaja
ativamente a ambos os sujeitos do ato de conhecer: educador-educando e
educando-educador.
Assim,
Paulo Freire, na sua prática educacional, preocupou-se com as classes
populares. No contexto do que denominou ser uma “pedagogia do oprimido”,
construiu uma verdadeira concepção política do ato de educar, adotando como
princípios fundamentais a valorização do cotidiano do aluno e a construção de
uma práxis educativa que estimule a leitura crítica do mundo. Na visão do
educador, a Educação popular progressista não separa, em nenhum momento, o
ensino dos conteúdos do desvelamento da realidade. Em sua proposta, o ato de conhecimento
tem como pressuposto fundamental a cultura do educando; não para cristalizá-la,
mas como “ponto de partida” para que ele avance na leitura do mundo,
compreendendo-se como sujeito da história, compreendendo que é por meio da
relação dialógica que se consolida a educação como prática da liberdade.
Na concepção de Freire, a sociedade é direito de todos
e todos têm direito de exercer a plena cidadania, entendendo ainda que isso só
se dará na medida em que todos os indivíduos sejam alfabetizados dentro do
conceito de alfabetização cultural, que segundo Paulo Freire (1982, p. 43),
significa aprender a escrever a sua vida como autor e como testemunho de sua
história. Para ele, alfabetizar é conscientizar por meio de palavras oriundas
do próprio universo vocabular. Segundo seu método, devemos, primeiramente,
investigar o universo das palavras faladas no meio cultural do alfabetizando.
Desse modo, o alfabetizando decodifica os símbolos e os comportamentos, que
passam a ser expressos na forma escrita, construindo ativamente a sua cultura.
Segundo
Freire (1982, p. 18),
[...] a cultura
letrada não é invenção caprichosa do espírito; surge no momento em que a
cultura, como reflexo de si mesma, consegue dizer-se a si mesma, de maneira
definida, clara e permanente.
Assim, ainda segundo o autor, alfabetizar-se é aprender
a ler a palavra escrita; não somente aprender a repetir, mas a dizer a sua
palavra, expressão de sua cultura.
O uso da alfabetização cultural como metodologia
resultará, dessa maneira, em melhoria do profissional da Educação, tanto na
prática pedagógica quanto como cidadão, pois o mesmo passará a ter uma visão
mais crítica e mais próxima da realidade do aluno. Sendo assim, trabalhar a
cultura do aluno significa valorizá-lo enquanto pessoa e enquanto cidadão,
diminuindo a ocorrência da estigmatização, da rotulação e da conseqüente
exclusão escolar.
Paulo Freire teve coragem de conscientizar e capacitar
o “oprimido” por meio da educação, dando a ele instrumentos fundamentais para
sua luta contra a sociedade excludente: o conhecimento e a palavra. Tal luta em
torno da questão opressores e oprimidos se dá pela conquista do que, segundo
Paulo Freire, o homem tem de mais precioso: sua liberdade. Seria então pela
libertação, conseguida a partir do processo de alfabetização realizado pela
leitura crítica do mundo, que os oprimidos começariam sua jornada em direção a
novas descobertas sobre suas realidades e seus lugares sociais.
Para que isso fosse possível, os professores deveriam
abrir mão de seus modelos “bancários” de educação, modelos estes que, segundo
Paulo Freire, estão relacionados às práticas de depósito de informações nas
mentes dos educandos. Em lugar de tal prática, os professores deveriam
exercitar o diálogo, a troca de conhecimentos sobre as múltiplas realidades que
se entrecruzam na sala de aula e favorecer a construção de processos
pedagógicos pautados na prática reflexiva, deixando para trás as práticas
reprodutivistas dos conteúdos.
Vale
lembrar que tal proposta educacional deixa de lado também o modelo instituído
de Educação encerrada nos muros escolares e, mais especificamente, nas salas de
aula, dando lugar às propostas que entendem a Educação como um ato de
exploração do universo existente ao redor do homem, não necessitando, portanto,
de lugar específico para acontecer, o que significa dizer que qualquer espaço
pode ser compreendido como um espaço educacional.
O “método Paulo Freire de alfabetização de adultos”,
consistia, assim, de ações pedagógicas que buscavam libertar o homem de suas
amarras sociais na tentativa de proporcionar uma maior mobilidade social,
diminuindo as desigualdades, as discriminações e os processos de exclusão em
marcha no Brasil de sua época.
Apesar disso, Paulo Freire
não concordava com o fato de atribuírem a ele o mérito pela construção de um
método de alfabetização, isso porque um método pressupõe diretividade,
imposição de conhecimento, idéia contrária à desenvolvida por ele em seu
trabalho. Mesmo assim, convencionou-se chamar o conjunto de ações pedagógicas
voltadas para a alfabetização de adultos de “Método Paulo Freire”.
Texto:
Valéria da Hora Bessa
Fragmento
do Livro: Teorias da Aprendizagem
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