sábado, 2 de maio de 2015

Teorias da Aprendizagem XX - A pedagogia libertadora de Paulo Freire



História pessoal
Paulo Freire nasceu Paulo Reglus Neves Freire, em Pernambuco, em 1921. Filho de pais pobres experimentou, no seio das classes populares, as dificuldades comuns num país marcado por extremas desigualdades
como o Brasil.
Após ter trabalhado no Serviço Social da Indústria (Sesi), alça seus primeiros vôos em relação a sua metodologia enquanto lecionava na Universidade do Recife onde, além de atuar no Serviço de Extensão Cultural, é admitido como professor de História e Filosofia. São essas experiências em torno de sua jornada na Universidade de Recife que divulgam a obra de Paulo Freire. Mesmo assim, o que o torna conhecido é sua experiência de alfabetização de adultos na cidade de Angicos, Rio Grande do Norte, em 1963.

Por ter assumido uma postura de contestação às práticas educativas tradicionais e tecnicistas e, mais ainda, por ter assumido uma postura política de conscientização dos oprimidos por meio do ato educativo (ao modelo Gramsciano de Educação), é visto pela ditadura militar instalada em 31 de março de 1964 como um inimigo político, sendo exilado do país.

Mesmo exilado, sua proposta educacional atinge vários educadores que se encontravam, há muito, insatisfeitos com as práticas pedagógicas encerradas atrás dos muros escolares. Além disso, ao ser exilado passa a divulgar seu método de alfabetização em universidades de várias partes do mundo por onde passou. Trabalhou em Harvard (EUA), em Genebra (Suíça), na África, na China, no Chile, no Peru e no Brasil.

Pelo conjunto de sua obra e por seus ensinamentos, Paulo Freire ganhou vários prêmios e homenagens internacionais. Dentre eles, podemos citar os vários títulos de doutor honoris causa por 27 universidades; o prêmio rei Balduíno para o desenvolvimento (concedido na Bélgica em 1980); o prêmio Unesco da Educação para a paz (em 1986) e o prêmio Andrés Bello (como educador dos Estados Americanos).

Além de seus muitos prêmios, Paulo Freire também ficou conhecido pelos livros que publicou sobre a Educação e sobre seu método pedagógico. Entre eles, podemos citar Pedagogia do oprimido; Pedagogia da esperança; e Pedagogia da autonomia, responsáveis por alterar radicalmente o pensamento pedagógico brasileiro.
Paulo Freire morreu em maio de 1997.

A Educação segundo Paulo Freire
A pedagogia freireana se insere no conjunto de propostas pedagógicas conhecidas como progressistas, que surgiram em oposição à pedagogia liberal, tendo como seu principal objetivo os interesses da maioria da população, partindo de uma análise crítica da sociedade capitalista.
Para a pedagogia progressista, a Educação não é neutra e os problemas educacionais são os reflexos do contexto social no qual o indivíduo está inserido. A Educação não está centrada no professor ou no aluno, mas sim na relação entre os indivíduos envolvidos nesse processo de formação do cidadão consciente. As práticas pedagógicas progressistas estão divididas em três grupos: o da pedagogia libertadora, o da pedagogia libertária e o da pedagogia crítico-social dos conteúdos.

O modelo educacional adotado por Paulo Freire se insere no conjunto de práticas relacionadas com a pedagogia libertadora, uma vez que questiona a realidade das relações do homem com a natureza e com os outros homens, visando a uma transformação. Por isso, ela é chamada de educação crítica. Trabalha-se com temas geradores centrados na realidade social, na qual o importante não é a transmissão dos conteúdos específicos e sim despertar uma nova forma de relação com a experiência vivida, tendo em vista a ação coletiva diante de problemas e realidades do meio socioeconômico e cultural da comunidade local. O conhecimento é transmitido pelo diálogo, pois este engaja ativamente a ambos os sujeitos do ato de conhecer: educador-educando e educando-educador.

Assim, Paulo Freire, na sua prática educacional, preocupou-se com as classes populares. No contexto do que denominou ser uma “pedagogia do oprimido”, construiu uma verdadeira concepção política do ato de educar, adotando como princípios fundamentais a valorização do cotidiano do aluno e a construção de uma práxis educativa que estimule a leitura crítica do mundo. Na visão do educador, a Educação popular progressista não separa, em nenhum momento, o ensino dos conteúdos do desvelamento da realidade. Em sua proposta, o ato de conhecimento tem como pressuposto fundamental a cultura do educando; não para cristalizá-la, mas como “ponto de partida” para que ele avance na leitura do mundo, compreendendo-se como sujeito da história, compreendendo que é por meio da relação dialógica que se consolida a educação como prática da liberdade.

Na concepção de Freire, a sociedade é direito de todos e todos têm direito de exercer a plena cidadania, entendendo ainda que isso só se dará na medida em que todos os indivíduos sejam alfabetizados dentro do conceito de alfabetização cultural, que segundo Paulo Freire (1982, p. 43), significa aprender a escrever a sua vida como autor e como testemunho de sua história. Para ele, alfabetizar é conscientizar por meio de palavras oriundas do próprio universo vocabular. Segundo seu método, devemos, primeiramente, investigar o universo das palavras faladas no meio cultural do alfabetizando. Desse modo, o alfabetizando decodifica os símbolos e os comportamentos, que passam a ser expressos na forma escrita, construindo ativamente a sua cultura.
Segundo Freire (1982, p. 18),
[...] a cultura letrada não é invenção caprichosa do espírito; surge no momento em que a cultura, como reflexo de si mesma, consegue dizer-se a si mesma, de maneira definida, clara e permanente.
Assim, ainda segundo o autor, alfabetizar-se é aprender a ler a palavra escrita; não somente aprender a repetir, mas a dizer a sua palavra, expressão de sua cultura.
O uso da alfabetização cultural como metodologia resultará, dessa maneira, em melhoria do profissional da Educação, tanto na prática pedagógica quanto como cidadão, pois o mesmo passará a ter uma visão mais crítica e mais próxima da realidade do aluno. Sendo assim, trabalhar a cultura do aluno significa valorizá-lo enquanto pessoa e enquanto cidadão, diminuindo a ocorrência da estigmatização, da rotulação e da conseqüente exclusão escolar.
Paulo Freire teve coragem de conscientizar e capacitar o “oprimido” por meio da educação, dando a ele instrumentos fundamentais para sua luta contra a sociedade excludente: o conhecimento e a palavra. Tal luta em torno da questão opressores e oprimidos se dá pela conquista do que, segundo Paulo Freire, o homem tem de mais precioso: sua liberdade. Seria então pela libertação, conseguida a partir do processo de alfabetização realizado pela leitura crítica do mundo, que os oprimidos começariam sua jornada em direção a novas descobertas sobre suas realidades e seus lugares sociais.

Para que isso fosse possível, os professores deveriam abrir mão de seus modelos “bancários” de educação, modelos estes que, segundo Paulo Freire, estão relacionados às práticas de depósito de informações nas mentes dos educandos. Em lugar de tal prática, os professores deveriam exercitar o diálogo, a troca de conhecimentos sobre as múltiplas realidades que se entrecruzam na sala de aula e favorecer a construção de processos pedagógicos pautados na prática reflexiva, deixando para trás as práticas reprodutivistas dos conteúdos.
Vale lembrar que tal proposta educacional deixa de lado também o modelo instituído de Educação encerrada nos muros escolares e, mais especificamente, nas salas de aula, dando lugar às propostas que entendem a Educação como um ato de exploração do universo existente ao redor do homem, não necessitando, portanto, de lugar específico para acontecer, o que significa dizer que qualquer espaço pode ser compreendido como um espaço educacional.

O “método Paulo Freire de alfabetização de adultos”, consistia, assim, de ações pedagógicas que buscavam libertar o homem de suas amarras sociais na tentativa de proporcionar uma maior mobilidade social, diminuindo as desigualdades, as discriminações e os processos de exclusão em marcha no Brasil de sua época.
Apesar disso, Paulo Freire não concordava com o fato de atribuírem a ele o mérito pela construção de um método de alfabetização, isso porque um método pressupõe diretividade, imposição de conhecimento, idéia contrária à desenvolvida por ele em seu trabalho. Mesmo assim, convencionou-se chamar o conjunto de ações pedagógicas voltadas para a alfabetização de adultos de “Método Paulo Freire”.
Texto: Valéria da Hora Bessa 
Fragmento do Livro: Teorias da Aprendizagem

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