No
interior de sua teoria, Howard Gardner apresenta sete tipos distintos de
inteligência, que serão apresentados a seguir.
Inteligência linguística
Nas
lutas de um poeta com o fraseado de um verso ou de uma estrofe, vê-se em
funcionamento alguns aspectos centrais da inteligência linguística. O poeta deve
ser superlativamente sensível às nuances dos significados das palavras. Em vez
de cortar conotações, ele deve tentar preservar os sentidos buscados o quanto
for possível. Além disso, os significados das palavras não podem ser
considerados em isolamento. Já que cada palavra avalia suas próprias penumbras
de significado, o poeta deve certificar-se de que os sentidos de uma palavra
numa linha do poema não colidam com os levantados pela ocorrência de uma
segunda palavra em outra linha. As palavras devem captar com o máximo de
fidelidade possível as emoções ou imagens que animaram o desejo inicial de
compor.
Ao
discutirmos os significados ou conotações de palavras, nos encontramos na
semântica, aquele exame do sentido que é universalmente considerado central à
linguagem.
Mas
outros domínios de linguagem também são de singular importância para esse
poeta. O poeta deve ter sensibilidade aguçada à fonologia: os sons das palavras
e suas interações musicais; ainda o domínio da sintaxe; as regras que governam
a ordenação das palavras e suas inflexões, que é outro sine qua non da poesia. O poeta deve entender, intuitivamente, as
regras da construção das frases, bem como as ocasiões nas quais é permissível
burlar a sintaxe, justapor palavras que, segundo princípios gramaticais comuns,
não deveriam ocorrer juntas.
Mas
para aqueles que não são poetas praticantes, quais seriam os outros principais
usos aos quais a linguagem pode ser colocada? Primeiro há o aspecto retórico da
linguagem – a capacidade de usá-la para convencer outros indivíduos a respeito
de um curso de ação.
Em
segundo lugar, há o potencial mnemônico da linguagem – a capacidade de usar
essa ferramenta para ajudar a lembrar das informações variando de listas de
posses às regras de um jogo, de instruções para orientar-se até procedimentos
para operar uma nova máquina. E um terceiro aspecto da linguagem é o seu papel
na explicação.
Grande
parte do ensino e aprendizagem ocorre por meio da linguagem. Finalmente, há o
potencial da linguagem para explicar suas próprias atividades – a capacidade de
usá-la para refletir sobre ela mesma, fazer análise metalinguística.
Inteligência
musical
Os
componentes centrais da inteligência musical são o tom (melodia) e o ritmo
(sons emitidos em determinadas frequências auditivas e agrupados conforme um
sistema prescrito). O tom é mais central em determinadas culturas – por
exemplo, o rítmico é correlativamente enfatizado na África do Sul, onde as
proporções rítmicas podem atingir uma complexidade métrica vertiginosa. Parte
da organização da música é horizontal – as relações entre os tons quando se
desenrolam no tempo –, e parte é vertical: os efeitos produzidos quando dois
sons são emitidos ao mesmo tempo, dando surgimento a um harmônico ou
dissonante.
Muitos
especialistas foram adiante, colocando os aspectos afetivos da música perto do
seu centro. Ao longo dos séculos, tentativas de associar música com matemática
parecem um esforço conjunto para ressaltar a racionalidade da música. No
entanto, dificilmente alguém que esteve intimamente associado à música pode
abster-se de mencionar sua implicações emocionais.
Inteligência
lógico-matemática
Essa
forma de pensamento pode ser traçada de um confronto com o mundo dos objetos.
Pois é confrontando objetos, ordenando-os, reordenando-os e avaliando sua
quantidade que a criança pequena adquire seu conhecimento inicial e mais
fundamental sobre o domínio lógico-matemático.
Deste
ponto de vista preliminar, a inteligência lógico-matemática rapidamente
torna-se distante do mundo dos objetos materiais. O indivíduo torna-se mais
capaz de apreciar as ações que pode desempenhar sobre objetos, as reações que
prevalecem entre essas ações, as afirmativas que pode fazer sobre as ações
reais ou potenciais e os relacionamentos entre essas afirmativas. Ao longo do
curso do desenvolvimento, prossegue-se de objetos para afirmativas, de ações
para relações entre as ações, do domínio da pura abstração – enfim, os ápices
da lógica e da ciência. As raízes das regiões mais elevadas do pensamento
lógico, matemático e científico podem ser encontradas nas ações simples de
crianças pequenas sobre os objetos físicos de seu mundo.
No
que tange à gênese e ao desenvolvimento do ensinamento lógico-matemático, a
pesquisa de Piaget é preeminente. Ele astutamente discerniu as origens da
inteligência lógico-matemática nas ações da criança sobre o mundo físico; a
importância crucial da descoberta dos números; a transição gradual da
manipulação física dos objetos para transformações interiorizadas de ações; os
significados das relações entre as próprias ações; e a natureza especial das
camadas mais elevadas do desenvolvimento, em que o indivíduo começa a trabalhar
com afirmativas hipotéticas e a explorar os relacionamentos e implicações que
prevalecem entre elas.
Inteligência
espacial
Centrais
à inteligência espacial estão as capacidades de perceber o mundo visual com
precisão, efetuar transformações e modificações sobre as percepções iniciais e
ser capaz de recriar aspectos da experiência visual, mesmo na ausência de
estímulos físicos relevantes. Pode-se ser solicitado a produzir formas ou
simplesmente manipular as que foram fornecidas. Essas capacidades são
claramente não-idênticas: um indivíduo pode ser arguto em percepção visual,
embora tenha pouca capacidade para desenhar, imaginar ou transformar um mundo
ausente.
A
operação mais elementar sobre a qual outros aspectos da inteligência espacial
se baseiam é a capacidade de perceber uma forma ou um objeto. Uma vez que somos
solicitados a manipular a forma ou o objeto apreciando como ele será apreendido
de um outro ângulo de visão ou como pareceria se fosse girado, entramos
completamente na esfera espacial, pois uma manipulação no espaço foi
necessária. Problemas de dificuldade ainda maior podem ser propostos no domínio
“objeto” ou “figura”. De fato, problemas no ramo matemático da topologia
requerem precisamente a capacidade de manipular formas complexas em várias
dimensões.
A
inteligência espacial acarreta algumas capacidades: a de reconhecer exemplos do
mesmo elemento; a de transformar ou reconhecer uma transformação de um elemento
em outro; a de evocar formas mentais para então transformá-las; a capacidade de
produzir uma representação gráfica de informações espaciais, e similares.
Inteligência
corporal cinestésica
Característica
dessa inteligência é a capacidade de usar o próprio corpo de maneiras altamente
diferenciadas e hábeis para propósitos expressivos, assim como voltados a
objetos. Igualmente característica é a capacidade de trabalhar habilmente com
objetos, tanto os que envolvem movimentos motores finos dos dedos quanto os que
exploram movimentos motores grosseiros do corpo. Controlar os movimentos do
próprio corpo e a capacidade de manusear objetos com habilidade são os centros
da inteligência corporal.
Uma
descrição do uso do corpo como uma forma de inteligência pode, a princípio,
chocar. Houve uma separação radical em nossa tradição cultural recente entre as
atividades do raciocínio, por um lado, e as atividades da parte manifestamente
física da nossa natureza, conforme epitomada por nossos corpos, do outro. Esse
“divórcio” entre o mental e o físico não raro esteve aliado à noção de que o
que fazemos com nosso corpo é um tanto menos privilegiado, menos especial do
que as rotinas de resolução de problemas desempenhadas principalmente pelo uso
da linguagem, da lógica ou de algum sistema simbólico relativamente abstrato.
Vale
destacar, no entanto, que nos últimos anos psicólogos discerniram e enfatizaram
uma íntima relação entre o uso do corpo e o desenvolvimento de outros poderes
cognitivos.
Inteligência
interpessoal
Essa
inteligência engloba os dois aspectos da natureza humana. De um lado há o
desenvolvimento dos aspectos internos de uma pessoa. A capacidade central em
funcionamento aqui é o acesso à nossa própria vida sentimental – nossa gama de
afetos e emoções: a capacidade de efetuar instantaneamente discriminação entre
eles, sentimentos e, enfim, rotulá-los, envolvê-los em códigos simbólicos,
basear-se neles como um meio de entender e orientar nosso comportamento.
Em sua
forma mais primitiva, a inteligência intrapessoal equivale a pouco mais do que
a capacidade de distinguir um sentimento de prazer e um de dor e, com base
nessa discriminação, tornar-se mais envolvido ou retrair-se de uma situação. Em
seu nível mais avançado, o conhecimento intrapessoal permite que detectemos e
simbolizemos o conjunto de sentimentos altamente complexos e diferenciados.
Inteligência
intrapessoal
A
outra inteligência pessoal volta-se para fora, para os outros indivíduos. A
capacidade central aqui é a de observar e fazer distinções entre outros
indivíduos e, em particular, entre seus humores, temperamentos, motivações e
intenções. Examinada em sua forma mais elementar, a inteligência intrapessoal
acarreta à capacidade da criança pequena de discriminar entre os indivíduos ao
seu redor e detectar vários humores. Numa forma avançada, o conhecimento
pessoal permite que um indivíduo hábil leia as interações e desejos de muitos
outros indivíduos e, potencialmente, aja sobre este conhecimento.
Atualmente,
Gardner considera a existência de uma oitava inteligência, a naturalista, que
se refere à inteligência dos alunos que aprendem melhor pela natureza. Para
esses alunos, a maioria do aprendizado precisa acontecer em locais abertos.
Inteligências múltiplas e Educação
Um tema central nessa abordagem é a importância das
inteligências múltiplas utilizadas num encontro educacional. Este componente
pode ser multiplicado, por exemplo, as capacidades usadas pelas inteligências
podem ser usadas como um meio para adquirir informações. Assim, os indivíduos
podem aprender pela exploração de códigos linguísticos, de demonstrações
cinestésicas, espaciais ou de ligações interpessoais. Mesmo que várias
inteligências possam ser exploradas como meio de transmissão, o próprio
material a ser dominado pode incidir justamente no domínio de uma inteligência
específica. Se alguém aprende a tocar um instrumento, o conhecimento a ser
adquirido é musical. Se alguém aprende a calcular, o conhecimento a ser
adquirido é lógico-matemático. E, assim, vem a ocorrer que nossas várias
competências intelectuais podem tanto servir como meio quanto como mensagem,
forma e conteúdo.
Os
tipos de inteligência que são altamente valorizados diferem marcantemente nos
contextos distintos de aprendizagem. Nas sociedades não-alfabetizadas, há uma
elevada valorização do conhecimento interpessoal. Formas espaciais e corporais
de conhecimento tendem a ser pesadamente exploradas, embora formas linguísticas
e musicais possam também estar acima da média em determinadas circunstâncias
específicas. Já em cenários educacionais modernos, o conhecimento
lógico-matemático está acima, e determinadas formas de competência linguística
são também valiosas; em contraste, o papel do conhecimento interpessoal é, em
geral, reduzido, mesmo que formas interpessoais de conhecimento possam ser
muito maiores.
Ao
aplicarmos a teoria de Gardner na sala de aula, devemos organizar o currículo
ao redor das sete capacidades da inteligência apontadas por ele. Contudo,
devemos lembrar que o simples fato de um aluno frequentar aulas de música não
faz com que ele desenvolva competências musicais. Para tanto, é necessário que
o aluno compreenda aquilo que faz diante de situações desafiadoras que levem à
resolução de problemas referentes à música.
Desse
modo, Gardner estimula a criação de novos ambientes educacionais propícios ao
desenvolvimento das habilidades cognitivas a cada aluno. Da mesma forma, sugere
aos educadores que repensem as práticas avaliativas de modo a contemplar as
competências já desenvolvidas pelos alunos, não privilegiando apenas uma forma
de raciocínio, mas abrindo espaço para a utilização de modelos pedagógicos que
privilegiam as avaliações processuais e diferenciadas.
Assim,
podemos dizer que, atualmente, é fundamental para qualquer processo educacional
que se ampliem as discussões em torno da teoria de Gardner, uma vez que traz
para o campo pedagógico uma nova maneira de pensar e fazer Educação.
Texto:
Valéria da Hora Bessa
Fragmento
do Livro: Teorias da Aprendizagem
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