quinta-feira, 2 de abril de 2015

Teorias da Aprendizagem IV - A Teoria Sócio-Histórico-Cultural do Desenvolvimento - Lev Semenovich Vygotsky - Parte 1

“Um primata pode aprender bastante através do  treinamento, usando suas habilidades motoras e mentais;  no entanto, não se pode fazê-lo mais inteligente, isto é, não se pode ensiná-lo a resolver, de forma independente, problemas mais avançados. Por isso, os animais são incapazes de aprendizado no sentido humano do termo; o aprendizado humano pressupõe uma natureza social específica e um processo através do qual as crianças penetram  na vida daqueles que as cercam. “
                                                                                                        Vygotsky
História pessoal de Lev Vygotsky 
L
ev Semenovich Vygotsky nasceu na cidade de Orsha, próxima a Minsk, capital de Bielarus, país da hoje extinta União Soviética, em 17 de novembro de 1896. Conviveu no seio de uma família judaica de posses, o que lhe permitiu uma excelente formação cultural e intelectual. Em 1924, casou-se com Roza Smekhova com quem teve duas filhas. Porém, desde 1920 convivia com uma tuberculose que o levaria à morte prematura em 1934, antes de completar 38 anos. Apesar disso, sua produção escrita nesses poucos anos de vida foi intensa.

Vygotsky criou um laboratório de Psicologia na Escola de Formação de Professores de Gomel e participou da criação do Instituto de Deficiências, em Moscou. Paralelamente à sua vida profissional propriamente dita, Vygotsky mantinha intensa vida intelectual, fazendo parte de vários grupos de estudo, fundando uma editora e uma revista literária, coordenando o setor de teatro do Departamento de Educação de Gomel e editando a seção de teatro do jornal local.

O enorme volume de sua produção intelectual marcou, de certa forma, o estilo de seus textos escritos, que são definidos por alguns estudiosos como sendo textos densos, cheios de idéias, numa mistura de reflexões filosóficas, imagens literárias, proposições gerais e dados de pesquisa que exemplificaram essas proposições gerais.

Devido a sua enfermidade, muitos dos textos de Vygotsky não foram originalmente produzidos na forma escrita; foram criados oralmente e ditados à outra pessoa que os copiava, ou anotados taquigraficamente durante suas aulas ou conferências (OLIVEIRA, 1993, p. 21).

Em 1905, ocorre a revolução popular contra o Czar Nicolau II1 (conflito do povo) e acentua-se a crise social na Rússia, uma sociedade cheia de problemas, onde havia claros sintomas de descontentamento em amplas camadas da população, por ocasião da passagem de uma economia feudal decadente para uma economia capitalista em plena expansão. Essa transição provocava crises constantes. A Revolução de 1905 revelou que amplas camadas da sociedade russa detestavam os regimes czaristas. No dia 9 de janeiro, os desarmados e pacíficos manifestantes foram atacados pela guarda do palácio quando estes mesmos manifestantes apenas pretendiam entregar uma petição ao Czar Nicolau II, solicitando melhores condições de vida. Neste sentido, essa revolução foi chamada de Ensaio Geral (preparação para a Revolução Russa). Porém, só em 1917 ocorre de fato a Revolução Russa.
Em 1922, após o final da Primeira Grande Guerra, Stalin é nomeado secretário-geral do Partido Comunista, constituindo a URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) e centralizando o poder.
Em 1924, Vygotsky faz uma conferência no II Congresso de Psiconeurologia de Leningrado, marco importante em sua história profissional. Muda-se para Moscou, a convite de Kornilov, para trabalhar no Instituto de Psicologia de Moscou. Nesse mesmo ano morre Lênin e Stalin assume o poder.
Ainda em 1925 começa a organizar o Laboratório de Psicologia para Crianças Deficientes (transformado em 1929 no Instituto de Estudos das Deficiências e, após sua morte, no Instituto Científico de Pesquisa sobre Deficiências da Academia de Ciências Pedagógicas).

Em 1928, ocorre o processo de modernização da URSS: industrialização, reforma agrária, alfabetização, efetivado por Stalin, que governou a URSS de 1928 a 1953, não admitindo oposição ao seu governo, caracterizando, portanto, o regime fascista, onde elementos que discordassem de sua atuação política passavam a ser tratados como inimigos. Esse foi o tipo de governo que passou a existir na URSS a partir da posse de Stalin, um homem inflexível, firme em suas idéias e duro em suas atitudes.
Em 1929, dá-se início a ditadura stalinista.

Em 1934, Vygotsky morre de tuberculose, em 11 de junho, aos 37 anos de idade, ano em que ocorre a publicação do livro Pensamento e linguagem, na URSS.
A preocupação de Vygotsky com a Educação possuía motivos políticos, levando em consideração seu compromisso revolucionário. Ele pretendia que, por meio da Educação, pudesse acelerar o desenvolvimento da Rússia. Segundo Maciel (2000, p. 63), desde o início da vida profissional, Vygotsky foi incitado à procura de uma verdade. O desenvolvimento de uma nova ciência do homem foi muito mais do que uma meta profissional, ele se entregou à construção do conhecimento psicológico como se fosse uma causa. Essa devoção, quase religiosa, permitiu que ele convivesse com massacres, a guerra da Rússia contra a Alemanha e a Áustria, pressões político-partidárias, críticas acadêmicas, ataques recorrentes da tuberculose, avisos médicos da sua morte iminente, os trabalhos forçados da sobrevivência, a indiferença do mundo exterior; é essa devoção que explica que, apesar de toda a precariedade de sua vida, ainda pudesse desenvolver um trabalho científico criativo.

Além disso, se queremos compreender a obra de Vygotsky, precisamos lembrar que seu pensamento político e suas ações literárias têm origem na ideologia marxista, ou seja, precisamos compreender que assim como para Marx, para Vygotsky as mudanças produzidas na sociedade e na vida material interferiam diretamente na natureza humana, pois considerava o homem um ser histórico, construído a partir de suas relações com o mundo natural e social, e neste sentido, o sujeito social se constrói com base no movimento de internalização da cultura, numa perspectiva histórica, ampliando a compreensão dos mecanismos pelos quais a cultura se apropria dos sujeitos e como os sujeitos se apropriam dela.

Segundo Turnbull (2001, p. 133), Marx considerava como mais importante conflito da sociedade moderna aquele entre a burguesia (patrões) e o proletariado (trabalhadores). Esse conflito seria finalmente resolvido por uma vitória do proletariado em uma revolução social, seguida pela ditadura do proletariado e, finalmente, a dissolução de todas as formas de controle social e a emergência de uma sociedade realmente livre e justa.
Para Maciel (2000, p. 76-77), Vygotsky pensava que o homem deveria enfrentar as desarmonias interiores, a dificuldade de viver e conviver, sobretudo “escutando a vida”. Em uma carta a Levina (discípulo e colaborador, em 16 de julho de 1931), Vygotsky chama a atenção para a necessidade de encontrar um significado para a vida. Diz ele:
A principal coisa, sempre e agora, parece-me, é não identificar a vida com sua expressão exterior, e isso é tudo. Depois, escutando a vida (esta é a virtude mais importante, uma atitude relativamente passiva no começo), você encontrará a si mesmo... Claro que não se pode viver sem dar espiritualmente um sentido a vida. Sem a filosofia (a sua própria filosofia pessoal) pode haver niilismo2, cinismo, suicídio, mas não [há] vida. Mas tem sua filosofia, é claro. Aparentemente, você tem que amadurecê-la em si mesmo, dar-lhe espaço dentro de você, porque ele conserva a vida em nós. Depois há a arte, para mim, poemas, para outros, música. Depois há o trabalho. Quantas coisas podem incitar uma pessoa à procura da verdade. Quanta luz interior, calor e apoio existe na busca em si! E, então há o mais importante, a própria vida, o céu, o sol, amor, pessoas, sofrimento. Isto não são simplesmente palavras, isto existe. É real. (VEER; VALSINERR, 1996, p. 29).

Refletindo sobre a teoria de Vygotsky, percebemos que o autor esteve sempre à procura de algo mais, no sentido de compreender o homem e a interação da cultura existente no ser social.

Esta busca pelo esclarecimento do modo como os sujeitos humanos se apropriam de suas culturas continua a ser um objeto de estudo fundamental para os nossos dias, conferindo ainda mais atualidade às idéias de Vygotsky.
Texto: Valéria da Hora Bessa 
Fragmento do Livro: Teorias da Aprendizagem
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