quinta-feira, 2 de abril de 2015

Teorias da Aprendizagem V - A Teoria Sócio-Histórico-Cultural da Aprendizagem - Lev Vygotsky – Parte 2

Vygotsky, em sua abordagem sociointeracionista, entende e apresenta o homem em relação ao conhecimento, como o indivíduo que se desenvolve a partir do meio físico e socialmente. Para ele, os processos mentais não são inatos, mas se originam entre indivíduos humanos e se desenvolvem ao longo do processo de internalização de formas culturais de comportamentos e não de reações automáticas, ações reflexas e associações simples que ele afirma serem de origem biológica.

Diferentemente de Piaget, ele afirma que as características tipicamente humanas não estão presentes desde o nascimento, mas resultam da interação do homem com seu meio sociocultural.

Com relação ao cérebro, por exemplo, Vygotsky afirma que é como um “sistema aberto de grande plasticidade”, e que sua estrutura e modos de funcionamento são moldados ao longo da história à medida do desenvolvimento individual, e pode servir às novas funções sem que sejam necessárias transformações no órgão físico.

Para o desenvolvimento de uma Psicologia que integrasse o ser humano enquanto corpo e mente, ser biológico e social, Vygotsky parte de suas considerações de que o sujeito define sua constituição na internalização das atividades socialmente enraizadas e historicamente desenvolvidas e desenvolve os conceitos a seguir.

Processos elementares, que são os processos de ordem biológica, como reflexos, reações automáticas e associações simples.

Processos psicológicos superiores, que são os que caracterizam o funcionamento psicológico tipicamente humano, regidos pela ação consciente, pelo caráter voluntário da atenção e da memória ativa e pelo comportamento intencional.

Síntese, que se apresenta como um conceito diferenciado em Vygotsky por considerar a emergência de algo novo, e não a simples soma ou justaposição de dois elementos. O que surge é sempre algo que não estava presente nos elementos iniciais, mas foi tornado possível pela interação desses elementos, gerado num processo de transformação.

Plasticidade, caracterizada por ser a possibilidade de ser moldado a partir da interferência/ação de elementos externos, e que conta com a presença de uma estrutura básica que pode servir a novas funções, criadas na história social, sem que o órgão físico seja transformado. Essa plasticidade caracteriza o cérebro humano que, segundo Vygotsky, não é um sistema de funções fixas e imutáveis, mas que se modifica ao longo da história da espécie e do desenvolvimento individual.

 O conceito de Mediação

De acordo com o pensamento difundido por Vygotsky, as funções psicológicas, apesar de contarem com um suporte biológico, fundamentam-se nas relações sociais entre o indivíduo e o mundo. Assim, a cultura apresenta-se como parte essencial do processo pelo qual passa o ser humano para a constituição de sua natureza, transformando-se em um ser sócio-histórico.
Essa relação do homem com o mundo não é direta, mas mediada por sistemas simbólicos, que são os elementos que levam o sujeito à compreensão do mundo que o cerca e de si mesmo como parte integrante do corpo social. A presença desses elementos mediadores torna as relações do homem com seu meio mais complexas, atuando no seu desenvolvimento. Há dois tipos de elementos mediadores:

O instrumento – objeto social que carrega consigo a função para a qual foi criado e o modo de utilização desenvolvido durante a história do trabalho coletivo. A formação da sociedade com base no trabalho é um processo que marca o homem como espécie diferenciada, visto que os animais não produzem instrumentos com um objetivo específico, não os guardam para uso futuro e não preservam sua função como conquista a ser transmitida a outros membros do grupo social. O trabalho cria a cultura e a história humanas pela ação transformadora do homem sobre a natureza;

O signo – instrumento da atividade psicológica que age da mesma maneira que o instrumento no trabalho. Porém, é orientado para dentro do próprio sujeito e dirige-se ao controle de ações psicológicas. O signo auxilia em tarefas que exigem memória ou atenção e representa a realidade de maneira a fazer referências a elementos ausentes no tempo e no espaço. Torna a ação psicológica mais sofisticada e possibilita um controle maior sobre o comportamento e a ação motora. A utilização dessas marcas externas, no entanto, transforma-se em processos internos de mediação3 e propicia o desenvolvimento de sistemas simbólicos, estruturas complexas e articuladas em que se organizam os signos.

Aprendizagem e desenvolvimento
Como a busca de Vygotsky, em relação à compreensão da origem e do desenvolvimento das funções psicológicas ao longo da história social e individual da espécie humana, tem uma atenção maior voltada para a questão do desenvolvimento importância dos processos de aprendizado. Para ele, o aprendizado está intimamente relacionado aos processos de desenvolvimento e constitui um aspecto desses processos na organização cultural e, portanto, humana das funções psicológicas.

A aprendizagem pode ser definida como o despertar de processos de desenvolvimento no interior do sujeito que não ocorreriam sem o seu contato com o ambiente cultural.

Como Vygotsky enfatiza o processo sócio-histórico, o aprendizado inclui a interdependência entre indivíduos, ou seja, a relação entre aquele que ensina e aquele que aprende. Tem um significado mais abrangente porque envolve sempre a interação social e, na falta de situações propícias ao aprendizado, o desenvolvimento fica impedido de ocorrer. Deste modo, o aprendizado como relação do indivíduo com o ambiente sócio-histórico-cultural de que participa desencadeia processos internos de desenvolvimento do indivíduo.

A importância do papel do outro social é relevante na visão de Vygotsky na medida em que traz à tona um conceito de sua teoria nas relações entre desenvolvimento e aprendizado: o conceito de zona de desenvolvimento proximal (ZDP).

Segundo Maciel (2000, p. 69-70), de diferentes maneiras Vygotsky chamou a atenção para o permanente estado de movimento e mudança dos processos psicológicos. Para situar a relação aprendizagem e desenvolvimento, propõe a categorização de dois níveis de desenvolvimento: o nível real e o nível potencial. Baseado na identificação desses níveis elabora o conceito da ZDP. Considera o desenvolvimento real, o nível das funções mentais da criança que se estabelece como resultado de ciclos de desenvolvimento já completados. Tudo que a criança consegue fazer por si mesma de uma maneira independente. Chama a atenção de que quando se avalia a idade mental de uma criança usando testes psicológicos, está determinando o próprio nível de desenvolvimento real. Já o nível de desenvolvimento potencial corresponde assim a toda uma área que está em fase de amadurecimento, corresponde a uma série de processos que estão para ser atualizados na história do desenvolvimento da criança.
Diante disso, caracteriza a Zona de Desenvolvimento Proximal como:
[...] a distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou colaboração com companheiros mais capazes. (VYGOTSKY, 1994 apud Maciel, 2000, p. 70).
A Zona de Desenvolvimento Proximal é constituída pelo conjunto de funções que amadureceram e que ainda estão em fase embrionária. Em diferentes momentos, Vygotsky ressalta que o aprendizado é construído nas relações sociais. O contato com a realidade, com os instrumentos, com o trabalho, em especial com outras pessoas, é fundamental na construção do conhecimento e do sujeito psicológico.

De acordo com Vygotsky, para compreender adequadamente o desenvolvimento deve-se considerar não apenas o nível de desenvolvimento real da criança, capacidade de realizar tarefas de forma independente, mas também o nível de desenvolvimento potencial, isto é, sua capacidade de desempenhar tarefas com a ajuda de adultos ou de companheiros mais capazes ( OLIVEIRA, 1993, p.  59).

Entendemos então que é a partir da existência desses dois níveis de desenvolvimento – real e potencial, que Vygotsky define a Zona de desenvolvimento Proximal.

O nível de desenvolvimento real refere-se às conquistas que já estão consolidadas na criança/adulto, o que já aprendeu e domina; indica os processos mentais que já se estabeleceram, representando as funções já amadurecidas.

O nível de desenvolvimento potencial refere-se o que a criança/adulto é capaz de fazer mediante a ajuda de outra pessoa (adulto ou outra criança). Para Vygotsky, esse nível é bem mais indicativo do desenvolvimento mental do que aquilo que ela consegue fazer sozinha.

O nível de desenvolvimento proximal, por sua vez, é a distância entre o nível de desenvolvimento real, que costuma determinar através de solução, independente de problemas, e o nível de seu desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração de companheiros mais capazes. Assim, a ZDP é um domínio em constante transformação, uma vez que a criança que faz algo com a ajuda de alguém hoje, poderá, em pouco tempo, estar realizando sozinha a mesma tarefa.

Concluímos então, que para Vygotsky, o fundamento do funcionamento psicológico tipicamente humano é social e, portanto, histórico; ou seja, todos os elementos do ambiente humano são carregados de significado cultural, constituindo-se em elementos mediadores na relação entre homem e o mundo (OLIVEIRA, 1993, p. 40).

Texto: Valéria da Hora Bessa 
Fragmento do Livro: Teorias da Aprendizagem
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