História pessoal
Emília
Ferreiro nasceu na Argentina, onde se formou em Psicologia, e desenvolveu seus
estudos sobre linguagem, doutorando-se na Universidade de Genebra
sob a orientação de Jean Piaget. Em sua tese, propôs um novo olhar sobre a
alfabetização baseada no que chamou de psicogênese
da língua escrita.
Em
1974, dá início às pesquisas em torno do desenvolvimento da inguagem infantil, baseando-se nos princípios
piagetianos da psicogênese. Apesar de basear-se nos estudos anteriores já
realizados por Piaget, Emília Ferreiro avança em relação ao seu mestre, uma vez
que Piaget não havia ainda considerado a psicogênese da língua escrita em suas
análises. Deste modo, os estudos de Emília Ferreiro vieram a se tornar um marco
na transformação do conceito de aprendizagem da escrita pela criança.
Suas
pesquisas foram motivadas, segundo Rodrigues e Pariz (2005, p. 96), pelos altos
índices de fracasso escolar observados nas escolas mexicanas (país onde se
radicou). Junto com Ana Teberosky, também pesquisadora argentina, investigou de
que maneira as crianças constroem hipóteses linguísticas sobre o sistema de
escrita.
Para
tanto, utilizou-se de conhecimentos de psicologia, psicolinguística e
psicogenética, procurando compreender de que maneira construímos aprendizagens
em torno do sistema escrito. Assim, é praticamente impossível abordar o tema do
processo de iniciação da escrita em crianças sem utilizarmos os referenciais de
Emília Ferreiro e Ana Teberosky.
Apesar
disso, precisamos ter em mente que os estudos de Emília Ferreiro não postularam
uma metodologia de ensino-aprendizagem para as classes de alfabetização, mas
sim buscou, como Piaget, compreender de que maneira a construção do
conhecimento da criança sobre os processos de leitura e escrita vão sendo
realizados ao longo do seu desenvolvimento. Portanto, podemos afirmar que os
estudos de Emília Ferreiro eram de cunho psicológico e não pedagógico.
No entanto, muitos
educadores, ao se apropriarem da teoria formulada por Emília Ferreiro,
interpretam erroneamente suas análises como sendo um método de ensino para as
classes de alfabetização.
Os resultados de suas pesquisas nos mostram a
aprendizagem da escrita dissociada da aprendizagem da fala e que o caminho
utilizado pela criança para a compreensão dos símbolos lingüísticos passa pelas
associações entre os fonemas e grafemas de cada conjunto de linguagem. Além
disso, Emília Ferreiro também aponta a construção do conhecimento, ou melhor, o
construtivismo, como suporte teórico privilegiado para a explicação do processo
de escrita, uma vez que para escrever é necessário que realizemos constantes
interações com o meio que nos cerca e com os códigos linguísticos que
representam o que desejamos denominar.
Deste modo, segundo Ferreiro, para que possamos evitar
os erros mais comuns em relação ao processo de ensino de crianças em classes de
alfabetização, devemos tomar conhecimento das teorias psicológicas, das
práticas pedagógicas e das metodologias voltadas à compreensão da maneira como
a criança lida com o seu próprio processo de desenvolvimento em relação à escrita.
Nas classes de alfabetização, é comum nos depararmos
com pais e professores ansiosos pela demonstração de capacidades de leitura de
seus filhos e alunos. Isso é facilmente percebido nas comparações realizadas
por pais e professores sobre o desenvolvimento das crianças, como se todas
necessariamente seguissem o mesmo percurso no processo de alfabetização. Deste
modo, quando pais e professores “diagnosticam” erradamente a “falta de
habilidade” da criança para ler e/ou escrever, imediatamente atribuem isso a
problemas de ordem psicológica, à falta de atenção, à imaturidade infantil,
deixando de lado as análises pedagógicas sobre a forma como o próprio processo
de alfabetização está sendo conduzido.
Segundo Ferreiro, a questão da alfabetização gira em
torno da representação que a criança faz do mundo, ou seja, de que maneira cada
criança “lê” o mundo e o traduz em imagens e palavras.
Somente a partir dessa
representação, ou melhor, da compreensão pelos professores sobre o modo como
cada criança “lê” o mundo, é que se pode compreender a forma como cada criança
evolui no sentido da construção do seu conhecimento sobre a leitura e a
escrita.
De acordo com esse pensamento, Emília Ferreiro formula
a noção de hipóteses linguísticas. As hipóteses linguísticas, segundo ela são
construídas pelas crianças mesmo antes de ter sido iniciado seu processo formal
de alfabetização. Isto se dá porque, ao se relacionar com os objetos de
conhecimento e realizar as sucessivas assimilações sobre o objeto, cada
criança, a partir de seus conhecimentos prévios, formula hipóteses sobre o
objeto que está conhecendo. No caso de o objeto ser um signo linguístico, como
as letras, o processo se dá da mesma forma.
De
acordo com Ferreiro e Teberosky, as crianças começam suas “leituras” a partir das
representações gráficas do mundo (desenhos), mas depois de algum tempo, com a
introdução formal nas classes de alfabetização, as crianças vão sendo
apresentadas a outros códigos, podendo já distinguir o desenho da grafia
textual. A criança passa então de uma “leitura” representacional para uma
leitura de fato, com a compreensão de que, para que algo possa ser lido,
precisa antes ter sido grafado.
Texto:
Valéria da Hora Bessa
Fragmento
do Livro: Teorias da Aprendizagem
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