sábado, 18 de abril de 2015

Teorias da Aprendizagem XIV A Teoria de Emília Ferreiro e a Psicogênese da língua escrita



 História pessoal
Emília Ferreiro nasceu na Argentina, onde se formou em Psicologia, e desenvolveu seus estudos sobre linguagem, doutorando-se na Universidade de Genebra sob a orientação de Jean Piaget. Em sua tese, propôs um novo olhar sobre a alfabetização baseada no que chamou de psicogênese da língua escrita.


Em 1974, dá início às pesquisas em torno do desenvolvimento da  inguagem infantil, baseando-se nos princípios piagetianos da psicogênese. Apesar de basear-se nos estudos anteriores já realizados por Piaget, Emília Ferreiro avança em relação ao seu mestre, uma vez que Piaget não havia ainda considerado a psicogênese da língua escrita em suas análises. Deste modo, os estudos de Emília Ferreiro vieram a se tornar um marco na transformação do conceito de aprendizagem da escrita pela criança.


Suas pesquisas foram motivadas, segundo Rodrigues e Pariz (2005, p. 96), pelos altos índices de fracasso escolar observados nas escolas mexicanas (país onde se radicou). Junto com Ana Teberosky, também pesquisadora argentina, investigou de que maneira as crianças constroem hipóteses linguísticas sobre o sistema de escrita.


Para tanto, utilizou-se de conhecimentos de psicologia, psicolinguística e psicogenética, procurando compreender de que maneira construímos aprendizagens em torno do sistema escrito. Assim, é praticamente impossível abordar o tema do processo de iniciação da escrita em crianças sem utilizarmos os referenciais de Emília Ferreiro e Ana Teberosky.


Apesar disso, precisamos ter em mente que os estudos de Emília Ferreiro não postularam uma metodologia de ensino-aprendizagem para as classes de alfabetização, mas sim buscou, como Piaget, compreender de que maneira a construção do conhecimento da criança sobre os processos de leitura e escrita vão sendo realizados ao longo do seu desenvolvimento. Portanto, podemos afirmar que os estudos de Emília Ferreiro eram de cunho psicológico e não pedagógico.

No entanto, muitos educadores, ao se apropriarem da teoria formulada por Emília Ferreiro, interpretam erroneamente suas análises como sendo um método de ensino para as classes de alfabetização.

Os resultados de suas pesquisas nos mostram a aprendizagem da escrita dissociada da aprendizagem da fala e que o caminho utilizado pela criança para a compreensão dos símbolos lingüísticos passa pelas associações entre os fonemas e grafemas de cada conjunto de linguagem. Além disso, Emília Ferreiro também aponta a construção do conhecimento, ou melhor, o construtivismo, como suporte teórico privilegiado para a explicação do processo de escrita, uma vez que para escrever é necessário que realizemos constantes interações com o meio que nos cerca e com os códigos linguísticos que representam o que desejamos denominar.

Deste modo, segundo Ferreiro, para que possamos evitar os erros mais comuns em relação ao processo de ensino de crianças em classes de alfabetização, devemos tomar conhecimento das teorias psicológicas, das práticas pedagógicas e das metodologias voltadas à compreensão da maneira como a criança lida com o seu próprio processo de desenvolvimento em relação à escrita.

Nas classes de alfabetização, é comum nos depararmos com pais e professores ansiosos pela demonstração de capacidades de leitura de seus filhos e alunos. Isso é facilmente percebido nas comparações realizadas por pais e professores sobre o desenvolvimento das crianças, como se todas necessariamente seguissem o mesmo percurso no processo de alfabetização. Deste modo, quando pais e professores “diagnosticam” erradamente a “falta de habilidade” da criança para ler e/ou escrever, imediatamente atribuem isso a problemas de ordem psicológica, à falta de atenção, à imaturidade infantil, deixando de lado as análises pedagógicas sobre a forma como o próprio processo de alfabetização está sendo conduzido.


Segundo Ferreiro, a questão da alfabetização gira em torno da representação que a criança faz do mundo, ou seja, de que maneira cada criança “lê” o mundo e o traduz em imagens e palavras. 
Somente a partir dessa representação, ou melhor, da compreensão pelos professores sobre o modo como cada criança “lê” o mundo, é que se pode compreender a forma como cada criança evolui no sentido da construção do seu conhecimento sobre a leitura e a escrita.

De acordo com esse pensamento, Emília Ferreiro formula a noção de hipóteses linguísticas. As hipóteses linguísticas, segundo ela são construídas pelas crianças mesmo antes de ter sido iniciado seu processo formal de alfabetização. Isto se dá porque, ao se relacionar com os objetos de conhecimento e realizar as sucessivas assimilações sobre o objeto, cada criança, a partir de seus conhecimentos prévios, formula hipóteses sobre o objeto que está conhecendo. No caso de o objeto ser um signo linguístico, como as letras, o processo se dá da mesma forma.

De acordo com Ferreiro e Teberosky, as crianças começam suas “leituras” a partir das representações gráficas do mundo (desenhos), mas depois de algum tempo, com a introdução formal nas classes de alfabetização, as crianças vão sendo apresentadas a outros códigos, podendo já distinguir o desenho da grafia textual. A criança passa então de uma “leitura” representacional para uma leitura de fato, com a compreensão de que, para que algo possa ser lido, precisa antes ter sido grafado.


Texto: Valéria da Hora Bessa 
Fragmento do Livro: Teorias da Aprendizagem
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