terça-feira, 21 de abril de 2015

Teorias da Aprendizagem XVII - O material criado por Montessori



...O material pedagógico desenvolvido por Montessori ocupa um lugar de destaque no conjunto de seu trabalho, pois pressupõe a construção do conhecimento dos objetos e conceitos abstratos a partir da interação direta dos aprendizes com os objetos em si. Deste modo, cabe ao professor estimular na criança o desejo de conhecer, que, segundo Montessori, já se manifesta na criança por meio do que ela chamou de impulso interior para o trabalho espontâneo do intelecto.
Diante disso, Montessori desenvolve uma série de grupos de materiais didáticos divididos entre: exercícios para a vida cotidiana; material sensorial; material cromático; material de linguagem; material de matemática e material de ciências.

Materiais para o desenvolvimento da vida cotidiana
Os materiais destinados ao desenvolvimento da vida cotidiana ou vida prática consistem em exercícios que buscam favorecer o desenvolvimento da autonomia, da percepção, dos processos psicomotores e da atenção. Qualquer objeto do meio no qual a criança está inserida pode ser considerado de vida cotidiana, mas, em Educação, pode-se favorecer os exercícios de vida cotidiana com a criação dos “cantinhos de atividade” tão conhecidos pelos educadores. Além disso, as ações de vestir-se, assear-se, arrumar-se e organizar-se também estão incluídas no conjunto de exercícios considerados por Montessori como sendo de vida cotidiana (por exemplo, quadros de abotoar).

Material sensorial
Já o material sensorial consiste no conjunto de jogos de encaixe que são apresentados em formas e dimensões diferentes utilizados para estimular a atividade motora e a percepção visual (por exemplo, escadas marrons, encaixes sólidos, barras vermelhas).

Material cromático
O material utilizado para o desenvolvimento do senso cromático é dividido em uma série de 63 peças (tabletes) enrolados em fios de seda e disposto numa gradação de nove cores que vão do cinza, com gradações de branco e preto, ao rosa, passando pelo vermelho, laranja, amarelo, verde, azul, violeta e marrom. Além desse material, Montessori desenvolveu ainda os encaixes geométricos, ou encaixes planos, que consistem no encaixe de formas variadas como triângulo, quadrado, retângulo, trapézio e círculo na cor azul em molduras de madeira. O objetivo desses materiais é estimular a criatividade e o desenvolvimento psicomotor.

Material de linguagem
No que diz respeito ao desenvolvimento das habilidades linguísticas relacionadas à leitura e à escrita, Montessori desenvolve as letras de lixa ou alfabeto de lixa, caracterizado pela textura de lixa em letras recortadas e pregadas em cartões, tendo as vogais um fundo vermelho e as consoantes um fundo azul. Além das letras de lixa, Montessori desenvolve ainda o alfabeto móvel e os ditados mudos, sendo estes dois últimos materiais complementares.
Material de matemática
Para o desenvolvimento das habilidades matemáticas, parte mais conhecida da metodologia montessoriana, Montessori desenvolve um conjunto considerável de materiais. São eles: os algarismos de lixa (que seguem o mesmo princípio das letras de lixa), as barras vermelhas e azuis, a caixa de furos, a caixa de numeração, os tentos, a tábua de Séguin, a serpente, a tábua de Pitágoras, os blocos lógicos e o material dourado.
Todos este materiais, segundo Montessori, podem ser utilizados durante a realização de atividades individuais com as crianças em suas mesas ou em tapetes, que têm como objetivo delimitar o espaço de ação da criança, bem como assegurar a mesma segurança e tranquilidade para a execução de suas tarefas.

Cada um dos materiais apresentados pode ser, segundo Montessori, utilizado de forma isolada ou de forma conjugada, uma vez que se complementam e podem auxiliar mais rapidamente o desenvolvimento das características necessárias para a ação da criança no meio no qual está inserida. Por exemplo, pode-se estimular uma criança por intermédio dos exercícios de vida prática aliado aos exercícios sensoriais.

Cabe ressaltar que Montessori também considerava o desenvolvimento infantil a partir de etapas biológicas. Por este motivo, antes de se escolher o material para ser utilizado no desenvolvimento de alguma habilidade infantil, deve-se atentar para a etapa de desenvolvimento cognitivo na qual a criança se encontra, para que não se ofereça a ela desafios além ou aquém de suas capacidades, o que seria um desafio intransponível ou pouco estimulante para ela.

Outro fator importante está relacionado com a questão da livre escolha das atividades pela criança, uma vez que o sentido de liberdade em Montessori ganha dimensões mais profundas em relação à aprendizagem. Isto significa dizer que, para Montessori, é a liberdade que conduz a criança na direção de sua autodisciplinarização, que exige dela (a criança) concentração, atenção, ordem e silêncio.

O método montessoriano em ação

Quando falamos do método montessoriano em ação, não estamos falando somente do uso dos materiais criados por Montessori, mas sim desse uso a partir de conceitos filosóficos mais amplos, como liberdade, autonomia e espiritualidade – todos conceitos relacionados ao desenvolvimento humanístico e holístico da criança, ou seja, ao desenvolvimento da criança enquanto um ser integral.

O ambiente social, nesse sentido, deve favorecer atividades individuais e atividades grupais, desenvolvendo no grupo noções de responsabilidade consigo e com o outro. Para tanto, Montessori trabalha a partir do conceito de autonomia, que se baseia na capacidade de convívio grupal de cada um no exercício de convivência que tem como premissa o conhecimento dos deveres e direitos de cada um do grupo.

O sistema social assim organizado permite o desenvolvimento das escolhas pessoais e da compreensão das consequências individuais e coletivas de cada ação realizada. Deste modo, cada criança exerce influência sobre a outra no sentido de estimular o livre arbítrio.
Já o conceito de liberdade postulado por Montessori (apud LIMA, 2005, p. 67) consiste na “liberdade de expressão [que] permite a criança revelar-nos suas qualidades e necessidades, que permaneceriam ocultas ou recalcadas num ambiente infenso à atividade espontânea”. Justamente por isso, Montessori desenvolve um método pedagógico baseado em atividades, para promover o desenvolvimento de uma liberdade espontânea de ação e de pensamento.

É neste mesmo sentido que Montessori (apud LIMA, 2005, p. 70) desenvolve seus pensamentos sobre disciplina. Nos diz a autora:
Disciplinado, segundo nossa concepção, é o indivíduo que é senhor de si mesmo, e em decorrência pode dispor de si ou seguir uma regra de vida [...] Disciplina que não se circunscreva tão-somente ao meio escolar, mas abarque igualmente o âmbito social. [...] É dever do educador impedir que a criança confunda bondade com imobilidade, maldade com atividade. [...] Nosso objetivo é disciplinar a atividade e não imobilizar a criança ou torná-la passiva.

Disciplinando a atividade, as crianças têm necessariamente que se responsabilizar tanto pelos objetos de uso pessoal quanto pelos objetos de uso coletivo. Da mesma forma, o respeito à diversidade também é valorizado pelo método montessoriano, que vê na cooperação e na colaboração aberturas pedagógicas fundamentais de valorização das capacidades individuais de cada criança.

Desse modo, Maria Montessori acabou por desenvolver um conjunto de práticas que tiveram como propósito estimular o desenvolvimento da criança enquanto um ser total, auxiliando na construção de uma postura diante da vida que pressupõe capacidade intelectual, tranquilidade, autoconfiança, liberdade, autonomia, cooperação e respeito.

Texto: Valéria da Hora Bessa 
Fragmento do Livro: Teorias da Aprendizagem
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