Estágios da psicogenética walloniana
1.º Impulsivoemocional
– para Wallon, a emoção é predominante nesse estágio, uma vez que atua como
instrumento de ligação da criança com o meio, onde a afetividade orienta as
primeiras reações do bebê para as pessoas e viceversa. Isso significa dizer que
a criança depende emocionalmente do meio para sobreviver e é por meio da relação
de afeto que contagia as pessoas ao seu redor para a tarefa de cuidar.
2.º Sensóriomotor e
projetivo – vai até o terceiro ano de vida da criança, que se interessa em
explorar o mundo físico, tem mais autonomia para explorar espaços e objetos. Há
um grande desenvolvimento da linguagem. Nesse estágio, as relações com a
inteligência prática e simbólica são predominantes. A projeção aparece como uma
maneira da criança exteriorizar os atos mentais através dos atos motores.
3.º Personalismo –
estende-se entre os três e os seis anos. O processo de formação da
personalidade é o centro dessa fase. A criança começa a pensar por si de acordo
com as relações que tem com o meio social, colocando novamente a afetividade
num lugar de predominância. Podemos dizer, assim, que o personalismo se
constitui como uma relação sólida de afeto entre a criança e o outro. Relação
extremamente necessária nessa fase, que caracteriza a entrada da criança no
meio formal de educação.
4.º Categorial –
inicia-se aos seis anos, com a função simbólica consolidada e a personalidade
diferenciada. Em função do estágio do personalismo, há um grande avanço na
inteligência. O interesse em compreender o mundo é aguçado, levando a criança a
uma maior exploração do mundo exterior, imprimindo as suas relações com o meio
e a preponderância do aspecto cognitivo.
5.º Adolescência –
nesta fase, existe a necessidade de afeto e uma nova definição do que envolve a
personalidade. Há um rompimento da tranqüilidade, desestruturação dessa nova
definição devido às modificações sofridas pelo corpo em decorrência das
alterações hormonais e, novamente, temos um retorno à prevalência da
afetividade.
A toda essa variação da afetividade, Wallon chama de predominância funcional. Na etapa da
construção do eu, a afetividade
predomina mais do que nos outros estágios.
Cada fase internaliza o que a anterior conquistou e isso se
dá de forma contínua. Há sempre troca entre as fases. Uma depende da outra,
seja afetivamente ou cognitivamente.
Assim, as idéias de Wallon são fundamentadas em quatro
elementos básicos que se comunicam o tempo todo: a afetividade, o movimento, a
inteligência e a formação do eu como pessoa.
Segundo Dantas (1992, p. 85), a raiva, a alegria, o medo, a
tristeza e os sentimentos mais profundos ganham função relevante na relação da
criança com o meio. Galvão (2003, p. 61), completa dizendo que a emoção causa
impacto no outro e tende a se propagar no meio social.
Em relação ao movimento, Wallon diz que as emoções dependem
fundamentalmente da organização dos espaços para se manifestarem. Quanto à
disposição dos espaços, Wallon diz que as salas de aula deveriam ser
repensadas, deveriam ser diferentes do modelo tradicional utilizado em muitas
escolas atualmente, uma vez que a criança precisa de espaço para se movimentar
com liberdade. O movimento é extremamente necessário para o desenvolvimento
completo da pessoa.
De acordo com Galvão (2003, p. 69), além do seu papel na
relação com o mundo físico, o movimento tem um papel fundamental na afetividade
e também na cognição.
Já a inteligência é desenvolvida conforme a visão que a
criança tem do mundo exterior. Existe um grande conflito entre o interior e o
exterior. O interior é cheio de sentimentos e sonhos e o exterior é repleto de
códigos e símbolos. É por meio desses constantes conflitos e na tentativa de
resolvê-los que a criança desenvolve sua inteligência.
Na construção do eu,
Wallon diz que há grande dependência do outro.
Nessa fase a criança faz manha, se
joga no chão para conseguir algo, imita o outro. Todo e qualquer tipo de
sentimento, a crise de oposição ao outro que se torna estimulante para a
criança se descobrir, faz parte da construção do eu. No eu corporal, a criança
descobre seu corpo, como, por exemplo, colocar o dedo na boca ou segurar algo e
com essas experimentações é que consegue fazer diferença entre o que pertence
ao seu corpo e ao mundo exterior, construindo os limites do seu corpo.
De acordo com Galvão (2003, p. 51), o eu corporal é condição
necessária para a construção do eu psíquico, identificado mais claramente no
estágio personalista. Nessa etapa, ocorrem crises, nas quais os conflitos
interpessoais são frequentes. A criança, na maioria das vezes, se opõe ao
outro, ao que for diferente dela, não aceita nada do outro. É devido ao
sincretismo (misturas, confusões da mentalidade) que muitas vezes ocorrem
crises de ciúmes e raiva.
Sobre isso, Wallon diz que a criança responde às impressões
que as coisas lhe causam com gestos dirigidos a ela e que o eu depende
essencialmente do outro, tanto para ser referência quanto para ser negado. Isso
se dá principalmente quando a criança começa a viver a chamada crise de
oposição, em que a negação do outro funciona como uma espécie de instrumento de
descoberta de si própria, o que acontece aos três anos de idade, na hora de
saber quem “eu” sou. Sedução e imitação do outro são características comuns
nessa fase. Até mesmo a dor, o ódio e o sofrimento são elementos estimuladores
da construção do eu. Isso justifica o espírito crítico da teoria walloniana aos
modelos convencionais de educação.
Segundo esse teórico, as
transformações fisiológicas em uma criança revelam traços importantes de
caráter e personalidade. Por exemplo, a emoção é altamente orgânica, altera a
respiração e os batimentos cardíacos e, por consequência, as impressões da
criança sobre as situações vivenciadas.
Texto:
Valéria da Hora Bessa
Fragmento
do Livro: Teorias da Aprendizagem
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