terça-feira, 14 de abril de 2015

Teorias da Aprendizagem XI - A Teoria de Henri Wallon – Parte 2



Estágios da psicogenética walloniana
1.º Impulsivo­emocional – para Wallon, a emoção é predominante nesse estágio, uma vez que atua como instrumento de ligação da criança com o meio, onde a afetividade orienta as primeiras reações do bebê para as pessoas e viceversa. Isso significa dizer que a criança depende emocionalmente do meio para sobreviver e é por meio da relação de afeto que contagia as pessoas ao seu redor para a tarefa de cuidar.

2.º Sensório­motor e projetivo – vai até o terceiro ano de vida da criança, que se interessa em explorar o mundo físico, tem mais autonomia para explorar espaços e objetos. Há um grande desenvolvimento da linguagem. Nesse estágio, as relações com a inteligência prática e simbólica são predominantes. A projeção aparece como uma maneira da criança exteriorizar os atos mentais através dos atos motores.

3.º Personalismo – estende-se entre os três e os seis anos. O processo de formação da personalidade é o centro dessa fase. A criança começa a pensar por si de acordo com as relações que tem com o meio social, colocando novamente a afetividade num lugar de predominância. Podemos dizer, assim, que o personalismo se constitui como uma relação sólida de afeto entre a criança e o outro. Relação extremamente necessária nessa fase, que caracteriza a entrada da criança no meio formal de educação.

4.º Categorial – inicia-se aos seis anos, com a função simbólica consolidada e a personalidade diferenciada. Em função do estágio do personalismo, há um grande avanço na inteligência. O interesse em compreender o mundo é aguçado, levando a criança a uma maior exploração do mundo exterior, imprimindo as suas relações com o meio e a preponderância do aspecto cognitivo.  

5.º Adolescência – nesta fase, existe a necessidade de afeto e uma nova definição do que envolve a personalidade. Há um rompimento da tranqüilidade, desestruturação dessa nova definição devido às modificações sofridas pelo corpo em decorrência das alterações hormonais e, novamente, temos um retorno à prevalência da afetividade.

A toda essa variação da afetividade, Wallon chama de predominância funcional. Na etapa da construção do eu, a afetividade predomina mais do que nos outros estágios.

Cada fase internaliza o que a anterior conquistou e isso se dá de forma contínua. Há sempre troca entre as fases. Uma depende da outra, seja afetivamente ou cognitivamente.  

Assim, as idéias de Wallon são fundamentadas em quatro elementos básicos que se comunicam o tempo todo: a afetividade, o movimento, a inteligência e a formação do eu como pessoa.

Segundo Dantas (1992, p. 85), a raiva, a alegria, o medo, a tristeza e os sentimentos mais profundos ganham função relevante na relação da criança com o meio. Galvão (2003, p. 61), completa dizendo que a emoção causa impacto no outro e tende a se propagar no meio social.

Em relação ao movimento, Wallon diz que as emoções dependem fundamentalmente da organização dos espaços para se manifestarem. Quanto à disposição dos espaços, Wallon diz que as salas de aula deveriam ser repensadas, deveriam ser diferentes do modelo tradicional utilizado em muitas escolas atualmente, uma vez que a criança precisa de espaço para se movimentar com liberdade. O movimento é extremamente necessário para o desenvolvimento completo da pessoa. 

De acordo com Galvão (2003, p. 69), além do seu papel na relação com o mundo físico, o movimento tem um papel fundamental na afetividade e também na cognição.
Já a inteligência é desenvolvida conforme a visão que a criança tem do mundo exterior. Existe um grande conflito entre o interior e o exterior. O interior é cheio de sentimentos e sonhos e o exterior é repleto de códigos e símbolos. É por meio desses constantes conflitos e na tentativa de resolvê-los que a criança desenvolve sua inteligência.

Na construção do eu, Wallon diz que há grande dependência do outro.
Nessa fase a criança faz manha, se joga no chão para conseguir algo, imita o outro. Todo e qualquer tipo de sentimento, a crise de oposição ao outro que se torna estimulante para a criança se descobrir, faz parte da construção do eu. No eu corporal, a criança descobre seu corpo, como, por exemplo, colocar o dedo na boca ou segurar algo e com essas experimentações é que consegue fazer diferença entre o que pertence ao seu corpo e ao mundo exterior, construindo os limites do seu corpo.

De acordo com Galvão (2003, p. 51), o eu corporal é condição necessária para a construção do eu psíquico, identificado mais claramente no estágio personalista. Nessa etapa, ocorrem crises, nas quais os conflitos interpessoais são frequentes. A criança, na maioria das vezes, se opõe ao outro, ao que for diferente dela, não aceita nada do outro. É devido ao sincretismo (misturas, confusões da mentalidade) que muitas vezes ocorrem crises de ciúmes e raiva.
Sobre isso, Wallon diz que a criança responde às impressões que as coisas lhe causam com gestos dirigidos a ela e que o eu depende essencialmente do outro, tanto para ser referência quanto para ser negado. Isso se dá principalmente quando a criança começa a viver a chamada crise de oposição, em que a negação do outro funciona como uma espécie de instrumento de descoberta de si própria, o que acontece aos três anos de idade, na hora de saber quem “eu” sou. Sedução e imitação do outro são características comuns nessa fase. Até mesmo a dor, o ódio e o sofrimento são elementos estimuladores da construção do eu. Isso justifica o espírito crítico da teoria walloniana aos modelos convencionais de educação.
  
Segundo esse teórico, as transformações fisiológicas em uma criança revelam traços importantes de caráter e personalidade. Por exemplo, a emoção é altamente orgânica, altera a respiração e os batimentos cardíacos e, por consequência, as impressões da criança sobre as situações vivenciadas. 
Texto: Valéria da Hora Bessa 
Fragmento do Livro: Teorias da Aprendizagem
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